Contatos imediatos de qualquer tipo com o Papai Noel

Não escrevi ainda minha cartinha para o Papai Noel. E creio não ter mais tempo hábil para a correspondência chegar até o Polo Norte. …

Não escrevi ainda minha cartinha para o Papai Noel. E creio não ter mais tempo hábil para a correspondência chegar até o Polo Norte. Mas em época de tecnologia ao alcance de todos e todas, independente de faixa etária e status social, quem sabe eu consiga reverter a falta de comunicação e buscar uma alternativa antes da noite do dia 24, quando aqui no Brasil ocorre a tradicional festa da troca de presentes do Natal. Posso tentar mandar um recado no twitter, descobrir a página do face book do Papai Noel ou enviar um e-mail para o velhinho gordinho, de barba branca e que desfila pelo mundo com suas roupas vermelhas.
Na carta, tweet, recado no face book ou e-mail, eu diria que fui uma boa menina, uma profissional responsável sempre em busca de novos desafios (mesmo quando eles se escondem), uma mãe aplicada (descontando as rabugices da idade), uma irmã dedicada, uma tia/dinda carinhosa, uma amiga devotada e uma cidadã preocupada com o futuro do País, Estado e cidade. Revelaria ao Papai Noel que cuidei de minha saúde, fui assídua nas aulas de Pilates pelo tempo que minhas economias permitiram, cumpri algumas metas de controle do orçamento e procurei ler mais, ter tempo para lazer e para os encontros com as amigas e os amigos. Enfim, mereço um pouco de atenção do senhor do Polo Norte.
Apesar destes sinais de bom comportamento, não tenho uma lista extensa de presentes que gostaria de ver espalhados em pacotes lindamente embalados debaixo da árvore com o meu nome. Não considero que sejam pedidos que demandem muito dinheiro. De uma forma geral, alguns são facilmente encontrados nas melhores lojas do ramo, por preços acessíveis. Outros mais relacionados com o meu desejo e a minha fé de um lugar melhor para viver, mais justo, mais digno, mais igualitário, dependem mais dos acertos da política nas esferas federais, estaduais e municipais.
Confesso que ficaria imensamente feliz se ganhasse novos títulos de livros para ocupar as horas de folga, pode ser poesia, reportagens ou biografias (são os meus preferidos). Poderia ter embaixo da árvore um pacote com o DVD da minha diva Maria Rita que tem o nome "O Samba em Mim - ao vivo na Lapa". Aceito também sem hesitar outros DVDs do Chico Buarque da série que reúne músicas por segmento (Meu Caro Amigo, Vai Passar, Anos Dourados, Estação Derradeira, Bastidores, Futebol, Uma Palavra, Cinema, Saltimbancos e Roda Viva). Perfumes, incensos, porta-retratos, bijuterias e similares me tornariam uma pessoa muito mais satisfeita.
Se o Papai Noel pudesse intervir em alguns cenários em vez de presentes, eu pediria a volta da Dilma Rousseff, presidenta eleita por mais de 54 milhões de brasileiros e brasileiros. A saída do presidente golpista que assumiu o lugar dela. Uma brecha para reverter a PEC 55, aprovada ontem no Senado e que limitará os investimentos federais em educação e saúde nos próximos 20 anos. A não aprovação desta proposta injusta e incoerente elaborada pelo presidente golpista da reforma da previdência. Que os deputados estaduais tenham bom senso e rejeitem o projeto de desmonte do Estado enviado à Assembleia Legislativa pelo governador José Ivo Sartori e que pretende extinguir, por exemplo, a TVE e FM Cultura.
Necessito de contatos imediatos de qualquer tipo com o Papai Noel a tempo de ele conseguir enviar alguns dos meus pedidos e presentes. Pode até ser só um daquela lista que exige dispêndio de dinheiro. Mas se o velhinho fosse bom mesmo, como diz a lenda popular, poderia ser bem querido e providenciar a maior parte daqueles pedidos para mudar alguns cenários. Ah, pode mandar junto umas pitadas de esperança, uns goles de fé e doses altas de utopia.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

Comentários