Meu primeiro livro

Na calçada O amigo, cambaleante, saiu do Antonio"s e, amparado por Carlinhos Oliveira, sugeriu: – Vamos tomar um táxi? E Carlinhos: – É melhor …

Na calçada
O amigo, cambaleante, saiu do Antonio"s e, amparado por Carlinhos Oliveira, sugeriu:
- Vamos tomar um táxi?
E Carlinhos:
- É melhor não. Não convém misturar.
(Zózimo, Jornal do Brasil)
Jejum
Paulo Mendes Campos encontra Lúcio Rangel no final da manhã, em boemia prolongada:
- Lúcio, vamos comer qualquer coisa no Antonio"s, só bebida não dá.
Lúcio concordou, com a ressalva:
- Tudo bem, mas vamos tomar qualquer coisa antes, porque eu não como de estômago vazio.
Um júri de solteiros empedernidos, reunido há dias na varanda do Antonio"s, escolheu como a melhor frase do ano até agora a sentença de uma conhecida dama da sociedade carioca sobre infidelidade conjugal: Antes à tarde do que nunca. Zózimo, Jornal do Brasil, 07.06.83
Um casal na mesa 4, no Antonio"s, não parava de se beijar. Horas tantas, o rapaz pede a conta e um táxi. Cruz, o motorista de plantão, leva o casal. Uns 30 minutos depois Miltinho atente ao telefone e o rapaz da mesa 4, após se identificar, explica:  - Negócio seguinte, minha namorada ficou sem a dentadura e a gente achou que deve ter ficado aí.
Miltinho organizou os frequentadores remanescentes para uma pesquisa e nada da dentadura. Foi ver se o táxi já havia voltado ao Antonio"s e nada também. A história, noticiada pelo Zózimo, acaba sem a gente saber, realmente, onde ficou a indigitada dentadura.
Tudo em paz
Na madrugada, Antonio"s vazio, conversa amena de amigos. Bôni levanta-se vai até o telefone, disca um número e segundos depois, volta à mesa. Alguém mais curioso, pergunta: - "Telefonou pra quem, a essas horas !". E Bôni: - Para a Globo. Queria ver se estão atendendo ao telefone direito. Estão.
O preconceito
Madrugada fria e o Antonio"s vazio, somente Erlon Chaves, Simonal e Sérgio Noronha na mesa 2. Manolo ao lado. Cheguei, peguei meu uísque e sentei-me com eles, só ouvindo o papo rolar.
Discussão sobre preconceito racial.
Fiquei na minha, só ouvindo. Hora de sair, Simonal, Manolo e eu ainda nos demoramos um pouco na calçada. Simonal perguntou-me:
- Carona, Mario? Respondi que não dava e Simonal, surpreso:
- Não dá por quê?
E eu, finalmente opinando sobre o preconceito racial:
- No Brasil, negro dirigindo Rolls Royce, com branco ao lado, só pode ser o motorista.
Lady Godiva
Há a história de uma conhecida figura da Zona Sul que ficou nua na varanda e foi levada para casa embrulhada numa toalha.
(Do livro Antonio"s Caleidoscópio de um bar, Editora Record, 1991)

Autor
Mario de Almeida é jornalista, publicitário e escritor.

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