Porto Alegre não é das chuvas, trovoadas e tempestades

Nas últimas semanas, ainda que em dias e noites alternadas, Porto Alegre, esta cidade que eu tanto amo com seus encantos e recantos, mostra-se …

Nas últimas semanas, ainda que em dias e noites alternadas, Porto Alegre, esta cidade que eu tanto amo com seus encantos e recantos, mostra-se instável e sujeita a chuvas, trovoadas e tempestades repentinas. Um segundo apresenta um sol lindo e escaldante no horizonte. No minuto seguinte, como num passe de mágica, o mesmo horizonte torna-se escuro, nebuloso e em instantes o cenário inunda-se com os pingos de uma chuva insistente e torrencial. As ruas ficam totalmente alagadas e as calçadas intransitáveis. Pelas esquinas respinga água nas pernas dos pedestres que aguardam a sua vez de atravessar e nas casas, geralmente, a luz resolve faltar e torça para que ninguém fique preso no elevador do edifício.
Tomara que a instabilidade do tempo, na capital gaúcha, tenha ido embora com o mês de janeiro, que já se despediu nesta terça-feira coberta novamente de tempestade na finaleira da tarde. Tomara que o sol definitivamente encontre uma hospedagem fixa e que ele se demore um pouco mais em fevereiro nos horizontes da cidade. Tomara que os cenários em Porto Alegre sejam menos imprevisíveis, que as chuvas sejam mais passageiras ou esparsas, que o clima estampe-se sempre ameno nas tardes do município, que ninguém mais seja pego de surpresa, sem lenço e sem documento, no meio das trovoadas e dos relâmpagos inesperados.
Porque Porto Alegre fica muito feia coberta desta tempestade torrencial. Porque Porto Alegre pinta-se de um tom muito cinzento e nevoento quando cai água do céu de forma descontrolada. Porque Porto Alegre colore-se de tristeza quando a chuva desbota seus cenários de paisagem e cartão postal. Porque Porto Alegre não é uma cidade que se adapta às chuvas. Porque Porto Alegre não é uma cidade que sabe conviver com a instabilidade das águas desenfreadas. Porque Porto Alegre não teve um planejamento urbano para conviver com a instabilidade do clima.
Arrisco dizer que Porto Alegre é a cidade do sol no horizonte do Guaíba, espalhando seus raios despudoradamente e despedindo-se dos dias, dos parques lotados no entardecer do verão, onde as pessoas desfilam nas suas caminhadas ou corridas e as crianças brincam com seus pais e mães, dos bares da Cidade Baixa movimentados nos começos das noites quentes recebendo o carinho que resulta dos encontros de amigos e amigas que há tempo não se cruzavam. Porto Alegre é uma cidade que combina com os opostos. É a cidade do verão e do inverno. Não das temperaturas intermediárias.  Não do clima instável. Não da água que chega de forma inesperada. Porto Alegre não é das chuvas, trovoadas e tempestades.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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