O retorno do caos e das trevas em Porto Alegre

Se você, assim como eu, gosta de uma cidade desenvolvida, moderna, grande e com ares de metrópole internacional, mas sem os atropelos que estas …

Se você, assim como eu, gosta de uma cidade desenvolvida, moderna, grande e com ares de metrópole internacional, mas sem os atropelos que estas características sempre carregam na sua esteira, pode lamentar todos os dias e todas as noites dos próximos 10 meses e chorar, copiosamente, o fim das férias de verão em Porto Alegre. Sim, desde o inicio de março, a capital gaúcha vive o caos e as trevas com o retorno daqueles moradores "ingratos" que abandonam a cidade nos meses de janeiro e fevereiro e deixam Porto Alegre à deriva, para o usufruto dos habitantes que nela permanecem e que desfrutam deste período provisório e apaixonante de calmaria.
Com a volta dos moradores que fogem para outros destinos nos dois primeiros meses do ano, tudo fica complicado, difícil, devagar e arrastado em Porto Alegre. A cidade passa a conviver, de novo, com os engarrafamentos. O som estridente das buzinas dos carros nas ruas movimentadas e dos ônibus nos horários de pique confunde-se com os gritos de "pega ladrão", que ecoam nas esquinas de qualquer bairro ou no Centro Histórico da capital. As filas ocupam, novamente, os seus lugares nos bancos, restaurantes, lojas, supermercados, cinemas e todo o local de aglomeração de população. E quem caminha pelas ruas para fazer o trajeto do trabalho, colégio, universidade ou qualquer outro rumo, experimenta passos largos e agitados, no ritmo da cidade nervosa.
Na segunda-feira, perto das 18h, o carro do aplicativo que solicitei para retornar de um compromisso de saúde, levou exatamente 25 minutos para trafegar da Rua Professor Annes Dias, quando termina a Duque de Caxias, até a Avenida Independência, passando o Colégio Rosário. Um trajeto que não soma mais do que seis quadras. A explicação, repetida pelo motorista do carro para acalmar a minha inquietação, reunia três fatores: horário de pique, saída do colégio e obras de recapeamento na Avenida Osvaldo Aranha, que terminam por trancar o trânsito em todo o entorno. Depois, descobri que um incêndio ali perto e a morte de um assaltante de ônibus nas proximidades ajudaram a alimentar a tranqueira no trânsito. Mas nada que justifique tanto tempo em tão reduzido caminho.
Portanto, sinta-se à vontade nesta cidade linda e acolhedora novamente trancada, engarrafada, tumultuada, cheia de filas, com habitantes histéricos, moradores nervosos e ruas e avenidas entregues aos ladrões pela total falta de segurança institucional. Seja bem-vindo e bem-vinda ao caos e ao tumulto de Porto Alegre. Dê adeus aos dias e noites de calmaria, tranqüilidade, sossego e paz.
E se você tem alguma agenda com hora marcada, daquelas que é ruim e até mesmo deselegante atrasar, programe-se sair no mínimo com uma hora e meia de antecedência. Para evitar mofar 25 minutos em um trajeto de não mais de seis quadras. Se você pretende freqüentar um restaurante no final de semana, não dê chance para o azar, ou melhor, para as filas. Ou abandone a ideia ou aceite que sua refeição deve ser saboreada antes do meio-dia, quando estes locais lotam. Pensou em cinema? Ou compre a entrada bem antes pela internet ou saiba que será necessário enfrentar filas quilométricas naquele shopping mais perto. E aquele happy com as amigas na Cidade Baixa. Definitivamente? Aconselho a desistir. E rezar para que janeiro e fevereiro de 2018 não demorem tanto a chegar.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

Comentários