Se as nossas vidas não importam, que produzam sem nós

Nesta quarta-feira, 8 de março, Dia Internacional da Mulher, ativistas de mais de 50 países realizam uma Greve Internacional de Mulheres (GIM), em protesto …

Nesta quarta-feira, 8 de março, Dia Internacional da Mulher, ativistas de mais de 50 países realizam uma Greve Internacional de Mulheres (GIM), em protesto contra a misoginia, xenofobia, lesbofobia, bifobia, transfobia e racismo, problemas que, em pleno século 21, crescem em todos os países do mundo. Aqui, no Brasil, iremos denunciar, nas diversas atividades de mobilização, além dos itens discriminatórios citados acima, a reforma da previdência, que penalizará os trabalhadores, e em especialmente, as mulheres, com a possibilidade de perda de direitos tão duramente conquistados. Em marchas, em reuniões, em assembléias, em protestos, em caminhadas, ou simplesmente e, principalmente, cruzando nossos braços, vamos dar um basta de tanta desigualdade, diferenças, preconceitos, violência e culpas que não são nossas.
Será a hora de berrar para alertar a sociedade que não aceitaremos mais injustiças, violências sistêmicas, humilhações, insultos, desaforos, bofetadas, tapas e agressões que ocorrem pela simples questão de gênero. O feminicídio, tão desrespeitado pela mídia ao noticiar, reiteradas vezes, que a culpa pelo crime é da mulher que provocou com roupas sedutoras, que o homem matou porque estava desesperado pelo desemprego, violentou porque não aceitou a separação ou agrediu porque descobriu uma infidelidade. Este crime foi tipificado na legislação com a entrada em vigor da Lei nº 13.104/2015, que prevê o feminicídio como circunstância qualificadora do crime de homicídio quando o assassinato de uma mulher é cometido por razões da condição de sexo feminino.
Em mais um Dia Internacional da Mulher, aqui no Brasil, iremos paralisar as nossas atividades porque somos hoje o 5º país do mundo com mais mortes violentas de mulheres, num ranking com 84 países.  Aqui, no Rio Grande do Sul, iremos parar nossas atividades particulares e profissionais porque ainda hoje há quem acredite que as mulheres são as responsáveis pelos seus assassinatos, porque não agiram de forma adequada. As mulheres são estupradas e a culpa é nossa porque usamos roupas curtas. As mulheres apanham e a culpa é nossa porque provocamos. As mulheres sofrem violência doméstica e a culpa é nossa porque não escolhemos bem o marido. As mulheres são assassinadas por homens e a culpa continua sendo nossa.
Por isso, dentro das suas possibilidades, mostre sua adesão à GIM. Neste dia 8 de março, com a consciência de que exigimos direitos humanos e iguais para as mulheres, a liberdade de deliberar sobre nossas vidas e escolhas e que os nossos opressores sejam julgados e punidos pela lei, apoie e participe da GIM. Sabemos, especialmente aqui no cenário atual do Brasil, que muitas mulheres possuem trabalhos precarizados, o que significa dizer que estão vulneráveis e não poderão interromper suas atividades produtivas. Não se preocupem: iremos parar por vocês. Levantaremos a nossa voz, ergueremos a nossa bandeira, protestaremos, caminharemos, andaremos pelas calçadas e ruas deste país, Estado e cidade, representando vocês.
Mas, experimente neste dia, companheira, parar por algumas horas os trabalhos domésticos ou não cumprir uma das suas duplas jornadas de trabalho. Porque não estamos, com a GIM, propondo apenas paralisar as atividades produtivas e remuneradas. Como a organização da GIM descreve, vamos ressignificar o conceito de greve, que no decorrer da história esteve vinculado somente ao trabalho produtivo. Vamos visibilizar também o trabalho reprodutivo e não-remunerado que nós mulheres desempenhamos. Se for possível, não cozinhe, não limpe, não cuide.
Você não estará sozinha. Mulheres da Argentina, Austrália, Bélgica, Bolívia, Brasil, Canadá, Camboja, Chade, Chile, Hong Kong, Colômbia, Cuba, República Dominicana, Coreia do Sul, Costa Rica, República Tcheca, Equador, El Salvador, Fiji, Finlândia, França, Guatemala, Alemanha, Haiti, Honduras, Hungria, Irlanda, Irlanda do Norte, Israel, Itália, Lituânia, Malta, México, Montenegro, Miamar, Nicarágua, Paquistão, Panamá, Paraguai, Peru, Polônia, Portugal, Porto Rico, Rússia, Escócia, Senegal, Espanha, Suécia, Tailândia, Turquia, Ucrânia, Uruguai, Reino Unido, Estados Unidos, Venezuela estarão com você. Porque se as nossas vidas não importam, que produzam sem nós.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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