Os dilemas do jornalismo

Na semana que se comemora o dia do jornalista compartilho insights de uma pesquisa realizada pelo IPO ? Instituto Pesquisas de Opinião sobre as …

Na semana que se comemora o dia do jornalista compartilho insights de uma pesquisa realizada pelo IPO - Instituto Pesquisas de Opinião sobre as mudanças na área da comunicação.
Entramos no novo milênio com um processo gradual e inevitável de mudanças comportamentais que vão desde as relações familiares, perpassando às relações de consumo, de intenção de voto e, também, adentrando na forma como os telespectadores, os ouvintes e os leitores se relacionam com os meios de comunicação. Trata-se da "dicotomia natural" entre mídia tradicional (off-line) e a mídia digital (on-line). E nesse bojo de mudanças está o investigador dos fatos, dos acontecimentos: o jornalista.
Um dos fenômenos deste novo milênio está alicerçado na instantaneidade. Os "nativos digitais" nascidos neste século e milênio acreditam que a informação "brota" naturalmente e que basta clicar no "Dr. Google". Tanto é que um jovem, na casa dos 16 anos, é capaz de pedir para interromper a resposta de um questionário para consultar o Google e ver qual a resposta mais adequada ao questionamento feito pelo entrevistador.
E é neste contexto de instantaneidade e de "pós-verdade" que o jornalista precisa manter o seu princípio ético de investigação, de consulta a várias fontes na busca pelo contraditório.  Esse contexto de instantaneidade cria um novo adversário à categoria: o tempo!
Sempre foi comum os jornalistas serem criticados nas pesquisas de opinião por sua parcialidade. Hoje são criticados pela falta de rapidez, por sua morosidade. Afinal, um indivíduo que se defronta com um fato inusitado e com um Smartphone na mão se torna um "repórter em potencial" criando um contexto onde "todos querem dar a notícia em primeira mão". E os "Fake News" ganham cada vez mais espaço deixando a ciência do jornalismo disputando espaço com o tempo.
Diante desde cenário algumas reflexões importantes são realizadas pelo mercado da comunicação em relação aos dilemas do jornalismo, sendo elas:


  1. a mídia digital tem o papel de dizer o quando e onde. Mas logo depois cabe ao jornalista dizer o como e o por quê?

  2. a ciência do jornalismo terá que debater novas formas de consulta às fontes de informação e na busca do contraditório, utilizando as várias tecnologias disponíveis.

  3. há necessidade de ampliar o cruzamento de informações utilizando pesquisas em dados secundários com o propósito de diminuir os "espaços de tempo" entre o que era feito no off e o que o on exige, ampliando a visão sobre um tema em debate.

  4. ampliar o poder de síntese, mostrando as várias facetas do debate de uma forma sistêmica e prática, dialogando com o novo processo de absorção da informação (mais aliado a imagem).


Estamos vivendo um momento de transformação, é o momento dos jornalistas "de olhar para dentro" e revisitar o que a ciência do jornalismo ensina e o que ela pode contribuir para que a sociedade saiba mais de si mesma a fim de conseguir utilizar esta informação nas suas avaliações e decisões cotidianas. A mudança do paradigma tecnológico, muda o paradigma social e, por consequência, altera o paradigma do jornalismo.

Autor
Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO - Instituto Pesquisas de Opinião em 1996 e tem a ciência como vocação e formação. Socióloga (MTB 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e tem especialização em Ciência Política pela mesma instituição. Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Elis é conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) e Conselheira de Desburocratização e Empreendedorismo no Governo do Rio Grande do Sul. Coordenou a execução da pesquisa EPICOVID-19 no Estado. Tem coluna publicada semanalmente em vários portais de notícias e jornais do RS. E-mail para contato: [email protected]

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