Dia das Mães mais do que especial em pleno inferno astral

Sim, estou no inferno astral (e embora agora já seja o período oficial desta fase), ele começou com antecedência de uns 15 dias, conforme …

Sim, estou no inferno astral (e embora agora já seja o período oficial desta fase), ele começou com antecedência de uns 15 dias, conforme relatei em coluna de duas semanas atrás. É um espaço de tempo que precede a data do aniversário em que tudo de ruim costuma acontecer. Só para relembrar porque adoro ser paparicada: eu faço aniversário no dia 9 de junho. Bem, sobre inferno astral, não que eu acredite tanto assim em coisas do zodíaco, mas sou totalmente geminiana e isto explica muita coisa. Não que eu acredite em bruxas, mas que elas existem, ah, juro que existem e algumas, bem feias e com verrugas, moram perto da minha casa e vivem rondando a minha vida.
Pois, reforçando a tese do inferno astral, sem mais nem menos, a conta do banco não só entra no vermelho como fica de todas as cores, o que motiva diversas ligações telefônicas do gerente. Um dinheiro extra que deveria ter caído na conta errou de lugar. A enxaqueca que havia ido embora voltou com uma intensidade insuportável e torna-se resistente a qualquer remédio, ainda que em doses galopantes. O dedinho do pé, acostumado à posição da quina da cama que ocupa aquele espaço há muito tempo, resolve todo o dia dar um encontrão no móvel e me fazer ver estrelas. O ônibus, transporte necessário para me levar a vários compromissos pessoais e profissionais, sempre recém passou quando em chego na parada.
E no meio da noite, assim de repente, um barulho intermitente de água caindo no banheiro desperta a pessoa do sono, que tem sido estimulado, nas últimas noites, a custa de comprimidos e comprimidos tranquilizantes. Pois não é que um vazamento do banheiro do apartamento de cima ameaça inundar parte do meu apartamento e preciso acordar o zelador para fechar o registro. Sem falar na chateação do barulho de obras que resultará do conserto do apartamento do vizinho do andar superior. E poderia encher a paciência de vocês relatando aqui episódios que comprovam que esta colunista encontra-se no seu período mais terrível, assustador e indesejado inferno astral.
Como tenho uma filha extremamente especial, educada com muito amor e alimentada pela mãe com carinho diário, ela encontrou, no meio de seus afazeres de universitária e estagiária, um jeito de me fazer esquecer um pouco este inferno astral. No final de semana em que foi comemorado o Dia das Mães, Gabriela dedicou-se a me paparicar, a me mimar, a me acarinhar e me cobrir de afetos e ternura. Não pelos presentes recebidos, que confesso adoro ganhar (lembram a geminiana citada bem acima?), mas pelos detalhes que ela colocou em cada momento, em cada guloseima, em cada presente, em cada cartão escrito, em cada beijo estalado.
Não sei como ela conseguiu adquirir os presentes, uma vez que ela vive de mesada e é bolsista na universidade. Não sei como ela reuniu grana suficiente para passear no supermercado e comprar o necessário para o cardápio que ela elaborou para o almoço de domingo. Só sei que foi uma das melhores datas das mães que já passei (excetuando a saudade sempre sentida e cada vez maior da minha mãe Mirthô).
A epopeia de amor começou no sábado de manhã com um delicado buquê de rosas cor de champanhe e um arranjo de lírios no retrato da mãe Mirthô, continuou no sábado à noite assistindo filmes juntas, perpetuou-se com seu corpo dormindo sobre meu colo entre um filme e outro. Consolidou-se com os cafunés que Gabriela fez nos meus cabelos que já mostram fios brancos. E amanheceu no domingo com mais presentes (DVDs, quadros, cremes e outros), bolinhos de bacalhau, peixe ao forno com batatas e cebolas, arroz e saladas diversas. Tudo arrematado com uma bela receita de cassata de sobremesa que ensinei para a rebenta.
Foi um Dia das Mães mais do que especial em pleno inferno astral. Tudo me leva a crer que todo o carinho recebido foi merecido. Que todo o afeto é uma retribuição de alguns afetos dispensados nos seus 22 anos de vida. Que o cenário arquitetado pela minha filha foi para me fazer apagar um pouco este período diabólico que precede o aniversário. Que amor de mãe, realmente, é um amor que não se mede.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

Comentários