Tempo de outono e de aninhamento

Aberta definitivamente a temporada oficial do aconchego, dos encontros nos bares da Cidade Baixa, das idas aos cinemas aos sábados, dos abraços calorosos e …

Aberta definitivamente a temporada oficial do aconchego, dos encontros nos bares da Cidade Baixa, das idas aos cinemas aos sábados, dos abraços calorosos e demorados, dos ninhos cheios, de comer pipoca vendo televisão, das visitas aos amigos, dos cafés coloniais na casa do mano e da cunhada em Butiá. Não que exista um tempo marcado no calendário da vida para que as pessoas se acarinhem mais. Não que exista uma estação estabelecida para ser mais afetuosa e estimular as ternuras trocadas. Mas o outono e até mesmo a sua transição para o inverno que lhe segue parece o período apropriado para a promoção destes encontros e compromissos entre as pessoas.
É uma época que favorece aos programas mais caseiros, embebidos com uma boa garrafa de vinho tinto encorpado, derramando seu líquido malbec ou sauvignon, tábua de queijos, rodízios de sopa, quentão, fondues de carne, queijo e chocolate. O outono tem o chegar das noites que se apresenta ideal para um encontro com as amigas e os amigos em um bar aconchegante para atualizar as notícias da vida e bebericar uma caipira de frutas e petiscos. O outono é uma estação que oferece as suas tardes de domingo para colocar em dia a leitura atrasada, ver várias temporadas de séries, rever filmes preferidos.  O outono é sinônimo de aninhamento, acasalamento, acarinhamento, afetos e encontros.
Nos dias cinzentos de outono, em vez de alimentar a melancolia que a cor traz, os abraços mais apertados e carinhosos são permitidos (não que eles sejam impróprios em alguma outra estação). Mas eles funcionam como um alento especial nos dias de mais languidez do outono. Nos dias de maior nostalgia que o outono poderá fazer renascer, os programas em família são um remédio na dose certa. Preparar uma deliciosa sopa de capeletti com o vapor esfumaçando o ambiente para a filha que chegou toda ensopada da chuva inesperada. Ou avisar o parente que mora no interior que ele terá visita no final de semana.
Se o tempo permitir e uma pequena lasca de sol aparecer no meio de algum sábado ou domingo, o outono é especial para uma caminhada na Redenção, no Parcão, no Marinha ou em outro parque ou praça da cidade. Nem que seja para reduzir um pouco as calorias adquiridas com a comilança da estação. E se não tiver, em algum momento, a companhia para alguma destas sugestões descritas acima, separe seus CDs favoritos, som na caixa, aumente o volume e dance sozinha para remexer com o esqueleto. Aproveite este tempo especial de outono e aninhamento.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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