A população não vai às ruas por apatia

Em um dia corriqueiro, as pessoas se dirigem para as suas casas e, em média, 8 de cada 10 famílias assistem televisão, em especial, …

Em um dia corriqueiro, as pessoas se dirigem para as suas casas e, em média, 8 de cada 10 famílias assistem televisão, em especial, os telejornais. Sem contar o papel das multitelas, permitindo as pessoas acompanharem o noticiário pela televisão e interagem com as informações disponibilizadas pelas redes sociais.
E estas pessoas ficam perplexas ao assistir ao noticiário, com o relato de intermináveis denúncias de corrupção, de desvio de recursos públicos e que vem acrescido das informações sobre o aumento do desemprego (que alcançou o número de 14 milhões de trabalhadores no Brasil) ou das informações detalhadas sobre violência, homicídios, chacinas.
A cada dia os relatos de corrupção vão derrubando diferentes ?representantes? do povo e criando a sensação de que não é uma questão de ideologia, de partido, não é uma questão de ?lado? é um problema do sistema político.
As pesquisas realizadas pelo IPO indicam que 70% dos gaúchos são favoráveis as manifestações contra a situação do país, mas apenas 5% demonstra interesse em se mobilizar, a responder um convite de mobilização.
A apatia do eleitor passa o seguinte recado: "sou contra, mas não conte comigo" e isso tem associação a diferentes fatores que interagem entre si, entre eles se destacam:


  1. a) a falta de confiança nas instituições (menos de 1/3 confia nos três poderes e apenas 3% da sociedade gaúcha confia nos partidos políticos) que gera uma desconfiança com o sistema político e aflora a percepção de que todos os ocupantes de cargos públicos se beneficiam de alguma forma: seja desfrutando privilégios, seja se corrompendo.

  2. b) a falta de crença em um líder consolida a percepção de que não há líderes, não há o que defender e não há a quem defender. Nunca a expressão popular ?pôr a mão no fogo? (que é associada a confiar cegamente em alguém) foi tão unanimemente utilizada em seu sentido negativo: ?ninguém põe a mão no fogo pelos políticos?. Ora, se não há crença, como pode haver representação? Se a população não acredita nos políticos e nos partidos como os mesmos podem representar o interesse da sociedade? Não podemos perder de vista que a legitimidade é um elemento sine qua non da representação e não pode ser apenas de direito, precisa ser de fato!

  3. c) o receio com a segurança ou com a utilização indevida da mobilização. A maioria das pessoas não se arrisca a participar de mobilizações ou manifestações pelo medo dos vândalos que se juntam às manifestações, receio de black bloc ou até mesmo pelo medo de assaltos ou homicídios. Nesta lógica, também se juntam os argumentos associados ao receio de responder a uma manifestação e dar crédito a um movimento ou político que esteja atrás de autopromoção ou de interesses pessoais de cunho eleitoral.


Outra expressão popular é unânime para demonstrar o sentimento da população: ?se correr o bicho pega, se ficar o bicho come?. Aos políticos e partidos fica o tema de casa: revejam seus princípios, revejam as cartilhas partidárias e, principalmente, revejam o sistema político brasileiro.

Autor
Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO - Instituto Pesquisas de Opinião em 1996 e tem a ciência como vocação e formação. Socióloga (MTB 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e tem especialização em Ciência Política pela mesma instituição. Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Elis é conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) e Conselheira de Desburocratização e Empreendedorismo no Governo do Rio Grande do Sul. Coordenou a execução da pesquisa EPICOVID-19 no Estado. Tem coluna publicada semanalmente em vários portais de notícias e jornais do RS. E-mail para contato: [email protected]

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