O tal frio de renguear cusco

O inverno começa oficialmente às 01h24min desta quarta-feira, 21 de junho, e fecha seu ciclo no ano só no dia 22 de setembro, cedendo …

O inverno começa oficialmente às 01h24min desta quarta-feira, 21 de junho, e fecha seu ciclo no ano só no dia 22 de setembro, cedendo seu espaço no calendário para a simpática e florida primavera. É um tempo de hibernação, das bebidas quentes, dos vinhos saboreados em cálices, das comidas fumegantes, das canjas para serem saciadas nas noites frias, das echarpes e pashminas em todos os tons, dos blusões e pulôveres de lãs, das luvas de couro, das toucas, dos gorros e chapéus de veludo, dos casacões compridos e quentes. É um tempo de se proteger do frio, das ventanias, das chuvas. É um tempo de se agasalhar, de se aninhar, de se enamorar, de se permitir trocas e relacionamentos. É um tempo de ficar mais em casa, desenvolver hábitos mais domésticos, que estimula a leitura e os filmes, na televisão ou no cinema dentro dos shoppings nos finais de semana.
Nestes dias em que o frio é de renguear cusco,é  comum as pessoas usarem as redes sociais para pedir, com urgência a volta do calor. Mas antes vou explicar, porque Marcinha também é cultura, a expressão acima. Cusco vem do espanhol e quer dizer cachorro. E renguear é um regionalismo gaúcho e significa tremer, mancar). Ao dizer que está um frio de renguear cusco, estamos afirmando que é um frio tão intenso que os cachorros na rua tremem nas patas, mancam. Ou então, que é um frio tão intenso que deixa até os cachorros encolhidos. Pois quem pede a volta do calor no inverno deve ser a mesma pessoa que reclama, com veemência, pelo retorno do frio naquele calor senegalês. Quer dizer, são os eternos insatisfeitos e que nunca estão contentes com o clima da ocasião.
Preciso confessar que sou uma pessoa muito acomodada com as estações do ano e consigo enxergar um pouco de beleza, romantismo e harmonia em todas elas. Não adianta praguejar o frio quando ele chega e faz a gente tiritar. Nem se lamentar no calor quando o suor escorre. Ou detestar a melancolia do outono naqueles dias mais sombrios. Nem falar mal das alergias da primavera e dos gastos na farmácia. O bom da vida é, pelo menos, tentar aceitar o que nos é imposto e de natureza difícil de alterar, como as estações. Cada uma tem a sua magia, os seus encantos, as suas oportunidades. É melhor aceitar.
Na realidade, gosto muito do inverno. Porque sou adepta das echarpes, dos lenços e das pashminas. Tenho uma coleção destas peças que enche uma prateleira do meu roupeiro. Porque sou muito fã das canjas e das sopas de capeletti nas noites da estação fria. E capricho muito na preparação destes pratos. Porque sou muito apaixonada por uma boa taça de vinho e adoro os mais encorpados, uma garrafa de cabernet sauvignon que deixa uma sensação de língua travada. Porque mesmo com o frio, não dispenso um encontro com os amigos e amigas para jogar conversa fora e apreciar as delícias da culinária. Porque apesar do frio, sou sempre parceira de um cinema seguido de um café ou chá nas tardes de sábados e domingos nos shoppings. E se não tiver companhia, não me mixo e faço o programa sozinha.
E como é ideal naqueles dias muito frios do nosso inverno, também sei desfrutar do calor do lar. Aproveito para colocar a leitura atrasada em dia (sempre tenho livros aguardando a sua vez na estante). Planejo comidas perfeitas para enfrentar as baixas temperaturas. Aninho-me perfeitamente no sofá da sala com meu companheiro canino, o neto da raça shih tzu Dalai, que adora receber cafuné para acalmar os seus tremelicos de frio. E aprecio, com moderação, goles de vinho para esquentar a alma e o coração.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

Comentários