Pare o mundo que eu quero descer

Às vezes, ultimamente com muita frequência, juro que penso estar vivendo em outro planeta. Coisas estranhas e sem explicação, por mais que eu as …

Às vezes, ultimamente com muita frequência, juro que penso estar vivendo em outro planeta. Coisas estranhas e sem explicação, por mais que eu as procure, ocorrem debaixo do meu nariz tornando a rotina desconcertante. E eu fico a imaginar, a exemplo do que já cantou a Legião Urbana, "que país é este, nas favelas, no senado, sujeira pra todo lado, ninguém respeita a Constituição, mas todos acreditam no futuro da nação". Daí, por conta destas aberrações, volta e meia desperto do sono com pesadelos, e acordo aos gritos. Como já berrou Raul Seixas ao gravar a música de autoria de Sílvio Brito, "pare o mundo que eu quero descer, porque eu não aguento mais notícias de corrupção, violência que não para de aumentar, e pensar que a poluição contaminou até as lágrimas e eu não consigo mais chorar".
Para justificar um pouco esta minha insatisfação com o momento em que vivemos no Brasil e no Rio Grande do Sul, vou escrever, brevemente, sobre três fatos. O presidente golpista (sim) Michel Temer foi denunciado por crime de corrupção passiva pelo Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, que considerou verdadeiras as conversas gravadas entre ele e Joesley Batista, da JBS. E Temer usou menos de 17 minutos na tarde de terça-feira (27), para um pronunciamento em que contesta as denúncias de Janot, diz que o grampo com Joesley é ilegal e que a PGR não tem provas, que é tudo uma ficção, baseada em ilações. Mas como, senhor golpista? É simples! Nunca antes na história deste País, um presidente foi denunciado pela PGR. Pois é este presidente que quer implementar as reformas trabalhista e previdenciária, com mudanças que penalizam os trabalhadores e retiram direitos duramente conquistados ?
Eu não acredito que nada vá acontecer com Temer. Eu não acredito que estas reformas contra nós, os trabalhadores, sejam aprovadas pelos deputados federais e senadores. Com que respaldo político? Reformas que foram elaboradas por um presidente denunciado por corrupção passiva não podem ser respeitadas. Reformas que foram encaminhadas pela equipe de um presidente que tem um ministro, o da Agricultura, Blairo Maggi, supostamente envolvido com tráfico de drogas. E onde está o povo que bateu panelas? Por que não ocupam as praças, parques e esplanadas pedindo a saída de Temer?
Pois aqui no Rio Grande do Sul, coisas muito estranhas também perturbam o meu sono. Uma delas foi a prisão do deputado Jeferson Fernandes (PT), presidente da Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do RS, durante a ação violenta e covarde da Brigada Militar (BM) ao expulsar os moradores da ocupação Lanceiros Negros. O parlamentar, ao tentar intermediar e evitar danos maiores na ação que expulsou os moradores do prédio desocupado e abandonado de propriedade do Governo do Estado, situado na esquina da Rua General Câmara com a Rua Andrade Neves, foi agredido, algemado e preso pela Brigada Militar, comandada pelo secretário de Segurança, Cezar Schirmer (o mesmo que era prefeito de Santa Maria na época do incêndio da boate Kiss) e pelo governador José Ivo Sartori.
Porque eu deveria me surpreender com esta arbitrariedade da Brigada Militar? Se em 15 de junho do ano passado, esta mesma BM prendeu um jornalista em pleno exercício da profissão, o Matheus Chaparini, do Jornal Já, que estava cobrindo a desocupação de estudantes do prédio da Secretaria Estadual da Fazenda. Se naquela data, a BM ignorou as diversas vezes em que Chaparini identificou-se como jornalista, logo estava atuando como repórter, e foi encaminhado para o Presídio Central. E mais de um ano deste lamentável episódio, o governador Sartori, ainda não anulou o inquérito contra Chaparini.
Tempos complicados em que um colega jornalista, servidor concursado da TVE, Alexandre Leboutte, é suspenso das suas funções na emissora após uma comissão disciplinar da Fundação Piratini apurar possíveis ofensas ao presidente da televisão feitas na sua página do facebook. Leboutte ficará sem receber salário durante o período da suspensão.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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