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Por Fraga

Em 1969, me assombrei com a chegada do homem à Lua. Hoje me espanta haver mais terraplanistas que na época.

Animais também frequentam churrascarias. E não me refiro ao cardápio.

Gente folgada cria muito aperto para os outros.

Em Brasília, acabou o "toma lá, dá cá". Agora é "dá cá, toma lá".

Tem muita gente que merece ser internada neste país. Todos os que aprovam a internação involuntária por dependência de drogas.

Pra cada dia que passa, tem vários dias que amassam.

Nódulos, pólipos, folículos, fístulas, pústulas, furúnculos, cálculos, síncopes. O organismo padece é de proparoxítonas.

A Eternidade é toda formada por horas vagas.

Se você é humilde e diz que é, vão achar que você não é nada humilde; se você é mas não diz que é, também vão achar que você não é. Melhor não ser.

Impossível parar para pensar nas inquietações da nossa época. Ninguém nos deixa quietos.

Adão e Eva, Guilherme Tell, Isaac Newton, Branca de Neve, Beatles, Steve Jobs etc: nenhuma outra fruta reuniria um elenco desses.

Quem não alcançar em vida o tempo de se aposentar terá direito ao benefício após a exumação do cadáver.

7 bilhões de pessoas no mundo e todas tão longe quanto o apartamento ao lado.

O negócio é medir bem os prós e os contras: os primeiros milimetricamente, os segundos quilometricamente.

Vida após a morte? Se existe, é uma segunda chance pra se matarem uns aos outros.

Se garçons embaralhassem cartas como embaralham os pedidos, dariam exímios crupiês.

Se você não mostra que usa a imaginação, os outros ficam imaginando coisas de você.

Tudo vai dar certo. Mas não aqui, não agora, não pra nós.

Histeria pode ser coletiva mas o que circula nos coletivos na ida e volta do trabalho é a apatia.

Egocentrismo. Um dos poucos movimentos a girar em torno do nada.

A Presidência nunca pareceu trabalho escravo. Já a atual Presidência aparenta trabalho infantil.

Não quero alarmar ninguém mas sei de fonte segura que o amanhã chegará.

No frio do sul, a cobertura jornalística procura os sem-teto, quando o que esses querem é ser procurados por cobertores.

A impontualidade é o jeito que os impontuais têm, lá entre eles, de não se desencontrarem.

A gente bebe pra esquecer que é sóbrio.

Se acordado não há alternativas, pelo menos alterne os travesseiros.

Etc

Autor
Fraga. Jornalista e humorista, editor de antologias e curador de exposições de humor. Colunista do jornal Extra Classe.

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