A cartinha para o Papai Noel em pleno 2017

Quando minha filha Gabriela (hoje uma moça linda e ela vai odiar que eu tenha escrito isto), começou a viver a magia do Natal, mais ou menos com três anos de idade, eu era especialista em forjar respostas do Papai Noel para os seus pedidos de presentes. Nas tais cartas, sempre imensas e repletas de promessas que ela raramente cumpria de incluir mais verduras, legumes e frutas no seu cardápio, como se essa responsabilidade fosse dela e não da sua mamãe (sim, euzinha), escrevia exatamente o que ela me ditava que entendia ser necessário acertar com o bom velhinho. Para tornar tudo totalmente real, contava com a ajuda indispensável da amiga Tia Lili, que me auxiliava a elaborar respostas educativas e didáticas do Noel e ainda me deu a ideia de colocar selo e assinar no remetente que a mesma vinha do Polo Norte.

Pois, em pleno novembro de 2017 (às vésperas da entrada de dezembro, o último ano do calendário), pensei cá com meus botões, letras, teclados do computador e toda a tecnologia e rapidez das redes sociais, buscar uma comunicação urgente com Papai Noel. E fazer, sim, a minha lista de presentes que desejo ganhar no domingo natalino, em 24 de dezembro, que deverei, como faço há muitos e muitos anos, passar em Butiá. Seria, assim, uma primeira e modesta cartinha (porque Papai Noel, um ser muito exigente, ainda não me aceitou de amiga no Facebook), com uns pedidos nada onerosos financeiramente. Mas, com certeza, presentes um tanto quanto complicados de serem encontrados.

Se a minha cartinha chegar aos olhos do Noel, antes do queridão senhor de barba branca já ter saído dirigindo seu trenó com renas para iniciar a distribuição de alguns presentes aqui pelas bandas do Sul, por favor, rezo para que seja possível providenciar algumas demandas minhas. Amado Papai Noel, pode deixar, por gentileza, no sapatinho estrategicamente depositado na janela do meu quarto, um punhado de paciência para suportar tanta gente chata e sem noção que prolifera no planeta. Como diz uma grande amiga minha, é proibido pensar no nome de qualquer tipo de conhecido (a) mala que a pessoa se materializa e aparece no mesmo instante na nossa frente. Logo, Noel, se a paciência estiver em falta, pode simplesmente pedir para os chatos e as chatas tirarem umas férias bem demoradas.

Na minha lista de pedidos, solicito, com urgência, que Papai Noel enxugue todas as lágrimas que ainda tenho em estoque pela passagem do meu neto canino Dalai. Que o amado velhinho me traga uma dose suficiente de desprendimento de coração e alma para, quem sabe, na metade de 2018, adotar um cusco, e gotas de abnegação para transferir parte do meu carinho para este novo ser que chegará para alegrar os dias da família aqui no apartamento. Se couber no trenó, pode colocar também determinação, coragem, perseverança e valentia para enfrentar qualquer encrenca financeira, emocional ou até mesmo política prevista ou imprevista para os dias do próximo ano. Ah, preciso, também com caráter de urgência, de noites mais longas e relaxantes de sono, sem que seja preciso apelar para os remédios calmantes.

E como tenho a convicção irrevogável de que fui, ao longo de 2017, uma boa menina, uma guria comportada, mas não recatada e nem do lar, uma amiga atenciosa, uma irmã afetuosa, uma profissional ética, uma vizinha simpática e, especialmente, uma mãe devotada, sei que o velhinho lendário irá atender aos meus pedidos enviados na cartinha ou no e-mail (desde que tire meu endereço eletrônico do spam). Para não acumular tanto serviço nos últimos dias e noites, quando deve ser preocupante o aumento da demanda de pedidos, pode começar na noite desta quarta-feira, 29 de novembro, com o título de tricampeã da Taça Libertadores no jogo do Grêmio contra o Lanús. Desde já, muito obrigada Papai Noel.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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