A frustração precisa dar lugar à esperança

O Brasil vive uma instabilidade política que inquieta a população, angustia a sociedade e aumenta a frustração e a desconfiança. A operação chamada de …

O Brasil vive uma instabilidade política que inquieta a população, angustia a sociedade e aumenta a frustração e a desconfiança. A operação chamada de "Lava Jato", na percepção da sociedade, está "lavando a política" e "levando" as esperanças. É como se a sociedade "esperasse por isso, só não imaginava que fosse tanto".
A cada noticiário, a cada novo escândalo, a cada delação a população fica mais perplexa com o que ouve e com o montante dos valores desviados. E até perde de vista o "tamanho do desvio" não conseguindo estimar o que um governante sério e competente poderia fazer com tanto dinheiro. Nos debates de pesquisas qualitativas a população questiona se o dinheiro desviado resolveria o problema da saúde pública? Daria para concluir as rodovias inacabadas? Subsidiaria a continuidade de projetos sociais que estão se tornando cada vez mais parcos? Resolveria o problema da segurança?
Conforme aumenta a perplexidade, aumenta a desmotivação. E a desmotivação da sociedade com a política é prejudicial à própria sociedade: pois, a falta de confiança coloca em "xeque" a crença da sociedade. E não devemos esquecer que é a crença que garante a legitimidade do Estado, da democracia, da esfera pública.
Com a diminuição da crença, aumenta o individualismo e a sensação de que "esse país não tem jeito", de que só basta uma oportunidade para que as pessoas usurpem o dinheiro público, que se corrompam. E essa "perspectiva" aumenta a frustração da sociedade e dilapida as suas esperanças. Volta-se à perspectiva do privado em detrimento do público.
Como a sociedade sabe que "não se pode perder a esperança" e que "o brasileiro não desiste nunca", torce por um "salvador da pátria", por um líder que possa resolver os problemas e guiar as reformas necessárias, estabilizando a economia do país, permitindo um novo horizonte de crença política.
Neste cenário, ganha força uma tendência de negação aos políticos tradicionais e há uma adesão natural aos políticos que critiquem a burocracia, os privilégios e que combatam a corrupção e o aumento de impostos.
Se sonhar é preciso e, ter esperança é fundamental, a sociedade está a procura de propósitos, de premissas, de ideias que mostrem soluções novas  para os problemas "já tão antigos". A sociedade não quer mais ouvir a frase "sempre foi assim".

Autor
Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO - Instituto Pesquisas de Opinião em 1996 e tem a ciência como vocação e formação. Socióloga (MTB 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e tem especialização em Ciência Política pela mesma instituição. Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Elis é conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) e Conselheira de Desburocratização e Empreendedorismo no Governo do Rio Grande do Sul. Coordenou a execução da pesquisa EPICOVID-19 no Estado. Tem coluna publicada semanalmente em vários portais de notícias e jornais do RS. E-mail para contato: [email protected]

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