A onda separatista atingindo o futebol

Brexit, Catalunha Independente, O Sul é Meu País. Em proporções e resultados diferentes, estes movimentos podem impactar o futebol significativamente.

Destas, a Premier League (a liga de futebol profissional inglesa) seria a menos impactada, uma vez que o futebol inglês é forte e organizado. O principal expoente da Premier League é o Manchester United, para que se tenha uma ideia. Portanto, se fossem forçados (falo no condicional, pois já há o movimento "Exit Brexit", que me deixa em dúvida se o Brexit será efetivamente levado a cabo) a jogar unicamente entre si (são 20 clubes, a disputa é em pontos corridos) e tivessem alguma espécie de punição futebolística, ela continuaria (e seus clubes idem) saudável e pujante. Claro que sempre é melhor participar de competições da Europa (organizados pela Uefa)/Mercado Comum Europeu, mas para ilustrar, a Premier League tem uma média de público de 36.631 torcedores, atrás apenas da Bundesliga (liga alemã).

Para ilustrar, a Premier League comercializa (entre outras propriedades de marketing esportivo) seus naming rights, sendo que o patrocinador pode dar nome à competição. O fornecedor da bola oficial da competição é a não menos gigante Nike. Portanto, a vida seguiria relativamente normal para o futebol inglês.

Já a Liga Espanhola de Futebol (ou La Liga) seria durissimamente atingida, pois atualmente seu principal duelo, que atrai milhões de espectadores no mundo todo, bem como patrocinadores é o grande clássico Barcelona x Real Madrid. E a sede do Barcelona (por razões históricas, pois o Barcelona fica na Catalunha desde a ditadura franquista e tem todo este apoio apaixonado por representar a resistência do povo daquela região (e por seu futebol e organização, é claro)) fica na Catalunha. Qual seria o resultado da Catalunha independente para o seu principal clube, o Barcelona?

O Barça terminou o ano de 2016 com receitas da ordem de 620 milhões de euros (quem, como eu, está ou esteve envolvido diretamente com os clubes brasileiros (para aqueles que não me conhecem, dirigi o marketing dos dois principais clubes gaúchos, Grêmio e Internacional), fica com uma inveja colossal), sem considerar transferências. Pois caso a Catalunha se torne efetivamente independente, o clube passaria a disputar um campeonato pequeno e inexpressivo, contra outros clubes pequenos. E, portanto, a perda com os direitos de TV e bilheteria (talvez esta fosse menos atingida) seria profunda. E naturalmente que, diante deste cenário, patrocinadores quereriam renegociar (ou mesmo abandonar o clube) seus contratos. Um outro dado que serve para ilustrar é que a receita com bilheteria do Barça com partidas da Liga Espanhola é da casa de 37 milhões de euros por ano. As receitas com TV para os 20 clubes da Liga são da ordem de 1,1 bilhão de euros.

Portanto, o clube perderia significativamente receitas a curto e médio prazo, pois seu apelo como marca iria diminuindo com o passar do tempo. E claro que se as marcas e os clubes profissionais vão além de mera exposição de imagem, este é um componente muito importante ainda. (Tive a experiência de gerenciar duas crises: o Internacional no final da década de 90(não ganhava competições, número de sócios muito menor, média de público idem e, portanto, muita dificuldade em negociações) e o Grêmio em 2005, rebaixado(e para refrescar a memória, sem jogadores suficientes para formar um time para entrar no gramado) e no início com um desempenho muito difícil. A partir do momento que o clube foi embalando, as coisas foram melhorando. Um pouco). Resumindo, para o Barça a independência da Catalunha será um desastre.

Por fim, para não dizer que não falei de flores, houve um movimento (que na verdade, não teve efeito prático) denominado o Sul é Meu País. O que aconteceria com o futebol? Os dois clubes mais fortes seriam Grêmio e Internacional, pois o futebol catarinense e paranaense, com todo o respeito, não está entre o melhor do campeonato nacional. Assim, Grêmio e Internacional teriam que renegociar seus contratos de TV (para quem já o fez, negociação dificílima), com patrocinadores (no caso específico do principal patrocinador, o Banrisul, por ser um patrocínio caseiro e, do meu ponto de vista, já sem razão de existir, fosse menos duro), fornecedores de material esportivo (Umbro, Nike), em um fenômeno semelhante ao que aconteceria com o Barça caso a Catalunha seja independente.

Em resumo, movimentos separatistas podem afetar seriamente o futebol. Ou não, no caso da Premier League. Mas serão necessárias várias rodadas de negociação, renegociação e debates com os patrocinadores. E há ainda nisto tudo o fim maior: o torcedor. Passionais e que querem ver seu clube sempre no topo, seja ganhando títulos, seja disputando competições de ponta e tendo patrocinadores relevantes. Mas isto é assunto para uma outra coluna.

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