A realização de pequenos sonhos musicais

Quando a gente fala em realização de sonhos, a tendência é que sempre se pense em algo grande, difícil de ser atingido, quase impossível e de longo prazo. E porque não parar e observar o quanto de pequenos sonhos realizamos todos os dias. Alguns que nem ao menos denominamos sonhos. Pode ser viajar para algum lugar, comprar alguma coisa, encontrar alguém, ver um artista no palco, e por aí vai.

Na última terça-feira, 27, tive um destes momentos, ao ver Phil Collins de perto. Passei anos da minha adolescência escutando suas músicas e desejando ir a um show dele. Mas quando morava em Santa Catarina, era bem difícil imaginar uma turnê dele ou de qualquer outro grande músico por lá. Ou tinha que vir a Porto Alegre ou ir a São Paulo. E quando apareceu o show por aqui, alguns anos depois de ter deixado aquela mocinha criciumense para trás, não pensei duas vezes. Lá fui eu na pista mais próxima do palco, curtir aquela energia maravilhosa e ver um artista que, mesmo com problemas físicos, não deixou nada a desejar. Foi um show sentido por inteiro e com um sorriso no rosto o tempo todo. E o melhor é que eu olhava para os lados e tinha muita gente de Criciúma por ali. Não era a realização de um sonho só meu! Era algo coletivo.

A primeira vez que me senti assim, realizando um dos meus sonhos musicais, foi quando fui ao show da Madonna, em Buenos Aires, em 2008. Convenci um amigo, que, na época, trabalhava numa agência de turismo a ir comigo, pedi empréstimo no banco, chorei um dia de folga no trabalho, fiz as malas e me joguei num bate-volta para a Argentina. Quando chegamos, o show tinha sido transferido porque a estrutura não tinha chegado a tempo e tivemos que sair correndo para trocar o ingresso. Afinal, não tinha mais grana para ficar um dia a mais por lá. Bati perna uma manhã inteira pela capital porteña e voltei para o hotel para me preparar para o tão esperado show. Horas de filas depois, a entrada no estádio do River Plate foi um pouco tumultuado. Mas, assim que escureceu, Madge entrou no palco! Foi uma das sensações mais incríveis que eu já tive. Eu olhava ela pequeninha (estava no meio da pista comum), mas era ela e isso me bastava. Fora que ouvir 'Don't Cry For Me Argentina' dentro daquele lugar me arrepia até hoje só de lembrar. E confesso que quando ela entrou no palco aqui no Olímpico, em 2012, eu chorei, mas logo entrei em êxtase e aproveitei cada segundo.

Nunca fui de ser muito apaixonada por artistas daquele jeito de ficar horas numa fila para entrar no show, gritar enlouquecidamente ou de morrer chorando quando entram no palco. Entre o final de 2010 e metade de 2012, trabalhei no Atelier523 e atendíamos a algumas contas de produtoras ou fazíamos a divulgação de alguns shows específicos, e pude conferir de perto todo o fervor que os mais diferentes tipos de artistas geram nos seus fãs. Acho que não existe uma explicação racional para isso. As pessoas parecem tomadas de uma paixão incontrolável e algumas até passam mal de tão nervosas e ansiosas por estarem perto de um ídolo. O que aprendi neste tempo convivendo diretamente com fãs (eu ficava grudada na grade próxima ao palco acompanhando os fotógrafos e cinegrafistas), foi a ter menos preconceito - qualquer que seja o gênero musical. E me surpreendi com alguns artistas que esperava que fossem arrogantes, metidos a besta, e que foram incríveis com cada pessoa que passou na frente deles. Como me decepcionei muito com outros. Se eu que estava ali trabalhando me senti assim, imagina quem espera meses e até anos para encontrar com seu artista preferido. 

Nesta época de funções showzísticas, acabei realizando alguns desses meus pequenos sonhos musicais, principalmente, ligados à minha adolescência. Teve Roxette, Erasure, Tears for Fears e Joe Cocker. Teve lembranças queridas da infância e da casa de vó com Chitãozinho & Xororó, Roberto Carlos e Daniel. Teve sir Paul McCartney (comecei a trabalhar com as gurias no show dele, inclusive) e sir Elton John (fui como fanzoca mesmo em dois shows). Que venham muitos outros para mim e para todo mundo que se emociona com os acordes e os vocais de músicas incríveis e inesquecíveis.

Autor
Jornalista, formada pela Universidade Federal de Santa Catarina, especialista em Marketing e mestre em Comunicação - e futura relações-públicas. Possui experiência em assessoria de imprensa, comunicação corporativa, produção de conteúdo e relacionamento. Apaixonada por Marketing de Influência, também integra a diretoria da ABRP RS/SC e é professora visitante na Unisinos e no Senac RS.

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