A responsabilidade é da sociedade ou dos políticos?

Vivemos em uma época em que novos temas e debates são postos cotidianamente, alguns muito instigantes, como o debate da inovação social. A inovação social se refere às novas estratégias e formas de organização que visam ao atendimento das necessidades sociais. É o pensar social das condições de trabalho, da educação, da saúde, da qualidade de vida e do desenvolvimento sustentável de comunidades.

Entretanto, não podemos nos perder de temas vitais e históricos como a participação política, que é vista com indiferença ou até de forma negativa pela cultura política brasileira. Por princípio, a participação política resulta no engajamento social. O engajamento social mobiliza a reflexão e as deliberações coletivas em torno dos direcionamentos da sociedade, desde a condução de políticas públicas e sociais até as ações de inovação social.

Em pesquisa estadual realizada pelo IPO - Instituto Pesquisa de Opinião, no início de setembro, com 1.500 gaúchos distribuídos proporcionalmente nas sete mesorregiões do Estado, verificou-se que a maioria não tem o hábito de participar de associações, sindicatos ou partidos e tem dúvidas quanto à responsabilidade da sociedade sobre a política brasileira.

Pergunta aplicada: E pensando em toda situação da política brasileira (esquemas e escândalos de corrupção), uns dizem que a responsabilidade é dos políticos e outros dizem que é de toda a sociedade. Qual a sua posição? (%)

- A responsabilidade é de toda a sociedade 51,3%

- A responsabilidade é apenas dos políticos 43,9%

- Não sabe avaliar 4,8%

A falta de participação fomenta uma certa omissão social, a mesma sociedade que delega a responsabilidade da representação e da condução do País aos políticos se mostra muito indignada com reformas trabalhistas, com os conluios dos políticos em torno de interesses pessoais ou corporativos e se mostra estarrecida com os desdobramentos intermináveis da Lava Jato.

Esta omissão social é reflexo da maneira como o sistema político está estruturado no País. Um sistema que é baseado em instituições representativas, como partidos, sindicatos e associações e que atua na oxigenação do personalismo, no individualismo e na manutenção dos interesses pessoais em detrimento dos interesses coletivos, o 'toma lá dá cá'.

A cristalização da omissão social naturalmente fomenta a apatia social. Uma parte acredita que a sociedade tem responsabilidade, mas qual a ferramenta de participação é confiável? Como cada um poderia contribuir? E confiar em qual instituição? E como saber que as deliberações estão em torno do bem comum?

Estes e outros questionamentos fazem parte das dúvidas de uma sociedade apática, mas que almeja por inovação social.

Autor
Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO - Instituto Pesquisas de Opinião em 1996 e tem a ciência como vocação e formação. Socióloga (MTB 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e tem especialização em Ciência Política pela mesma instituição. Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Elis é conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) e Conselheira de Desburocratização e Empreendedorismo no Governo do Rio Grande do Sul. Coordenou a execução da pesquisa EPICOVID-19 no Estado. Tem coluna publicada semanalmente em vários portais de notícias e jornais do RS. E-mail para contato: [email protected]

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