Agosto, mês do cachorro louco? Não, nova chance de ser feliz!

Não acho politicamente correto associar agosto, que se iniciou nesta terça-feira (1º), ao mês do cachorro louco. Em primeiro lugar porque sou uma apaixonada …

Não acho politicamente correto associar agosto, que se iniciou nesta terça-feira (1º), ao mês do cachorro louco. Em primeiro lugar porque sou uma apaixonada declarada por todo tipo de cachorro e penso que, se eles são loucos, estão apenas refletindo seus donos. Meu amor pelos caninos extrapola os limites da normalidade. No domingo, após almoçar com a minha filha no bairro Bom Fim, resolvemos entrar numa loja descolada de decoração que existe na Avenida Osvaldo Aranha. Pois não é que assustei todos, os vendedores e clientes, com meu grito ao ver os lindos quadros com imagens de cuscos. E não considero legal dizer que agosto é mês do desgosto e do cachorro louco porque sou totalmente contra apelidos pejorativos e bullying com quem quer que seja, inclusive com um mês aleatório do calendário.
Imaginem o trauma do agosto ao ter que carregar, ano após ano, esta fama de ser um mês agourento. E ver as comparações com seus irmãos de calendário, todos repletos de frases lindas, imagens belas e associações carinhosas. Que tristeza deve ser para o oitavo mês do ano conviver com discrepâncias e defeitos relacionados a sua existência. Maio, por exemplo, é cheio de mimos e de adulações. É lembrado como o mês das noivas, das mães e de Maria. Junho que vem logo em seguida é considerado o mês dos namorados. E janeiro, que é sempre o mês das liquidações, férias, veraneio, planejamentos do ano que recém chegou. Tenho pena de agosto, que ganhou este nome (do latim Augustus), numa homenagem que o Imperador César Augusto fez para ele mesmo, o que já é esquisito.
E sabem porquê agosto, coitadinho, mereceu tantos apelidos dotados de energia negativa? Pois, um dos motivos é que neste mês aumenta a concentração de cadelas no cio, dizem que em função das condições climáticas. Com as cadelas no período fértil, os cachorros ficam loucos e brigam para conquistar a fêmea. Se isto só não bastasse para justificar o apelido de mês do cachorro louco, para endossar mais a teoria, a tal da sabedoria popular ensina que a luta feroz entre os machos atrás das fêmeas faz com que a raiva, doença transmitida pela saliva canina, se espalhe mais. Pois os cachorros infectados pela raiva babam muito e ficam com aparência de loucos.
Outros fatos ocorridos em agostos passados ajudam a reforçar esta fama de mês pouco sortudo. Por exemplo, a Primeira Guerra Mundial começou em 1º de agosto de 1914. Hiroshima e Nagasaki foram atacadas pelos norte-americanos com bombas nos dias 6 e 9 de agosto de 1945 (Segunda Guerra Mundial). E foi em agosto, no dia 2, em 1934, que Adolf Hitler se tornou o Chefe de Estado da Alemanha. Para endossar a tese do mês dotado de energia negativa, foi em agosto que Getúlio Vargas suicidou-se, em 1954, a construção do Muro de Berlim, dividindo a Alemanha em duas, começou no oitavo mês de 1961, e no Brasil, o ex-presidente Juscelino Kubitschek morreu em um acidente de carro no dia 22 de agosto de 1976.
Comentam, ainda, que em tempos idos, em agosto, as mulheres portuguesas evitavam se casar porque nessa época os navios de expedição saiam para explorar novas terras, e junto com as embarcações, iam os maridos das moças. Pois, pois, em terras lusitanas, o ato de casar em agosto significava ficar só, sem lua de mel, e em alguns casos, até mesmo viúva.
Estou com firme disposição de ajudar a mudar a fama pessimista de agosto. Nada de desgosto. De cachorro louco. De namoros desfeitos, de muros dividindo populações, de presidentes se matando (sei lá, não desejo isso nem mesmo para o golpista). Vou fazer do oitavo mês do ano uma nova chance de ser feliz, de encontrar amigos, de ver beleza nos desencantos, de enxergar amor em todas situações, de buscar a verdade em todos os acontecimentos. Bora lá fazer de agosto um mês tão mimoso, querido, alinhado, esperado e saudado. Ora, pois foi lá em agosto, nas cansadas de 1985, numa manhã muito fria, que nasceu o meu primeiro sobrinho e afilhado, o Rafael Martins Lopo, um guri afetuoso na medida dele, determinado nos seus propósitos, estudioso demais, que busca sempre seu crescimento e o aperfeiçoamento acadêmico. Nada melhor do que os afetos familiares para mostrar que nem todos os agostos são dos cachorros loucos e cheios de desgostos.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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