Até onde meter a colher?

Nas últimas semanas, algumas notícias sobre marcas e redes sociais voltaram à pauta, principalmente, entre os profissionais que trabalham com construção de marca e social media. E, apesar de trabalhar na área, fiquei pensando até que ponto um terceiro (uma agência, um freela, um consultor e afins) pode e deve interferir na relação de uma marca com seu público e no negócio como um todo. Calma, gente, sei que este é o nosso papel enquanto profissionais de comunicação e que, normalmente, é por isso que somos chamados: para estabelecer o relacionamento entre empresas e seus consumidores (de informações, de produtos ou de whatever).

Estava eu de férias na Bahêa quando comecei a ler burburinhos internéticos sobre uma postagem de um negócio de Porto Alegre que tinha feito um texto que soou deselegante aos ouvidos de muitos. Em alguns grupos de Whatsapp, o povo começou a discutir sobre o assunto, sobre o tom usado e até mesmo sendo deselegante em alguns momentos. E começou um pequeno debate a partir da frase: donos de negócios deveriam ficar longe das redes sociais oficiais da empresa. É aí que a pulga pulou para trás da orelha. Quem somos nós para dizermos o que alguém deve ou não fazer com a sua organização, se não fazemos parte daquele processo? Sim, estudamos pra isso. Sim, estamos sempre lendo sobre o assunto. Sim, estamos dentro dos negócios de alguma forma. Mas por que achamos que a regra se aplica de forma geral para todo tipo de organização, para todo tipo de cliente?

Vamos supor que tu atendes a um determinado cliente apenas numa área e que nem chega perto das redes sociais dele porque o proprietário tem formação em Comunicação e ele mesmo faz essas mídias. Ele conhece muito bem o seu negócio, sabe muito bem quem é o público que compra dele e estabeleceu que cada parte da empresa teria uma personalidade diferente e uma linguagem própria. Como tu trabalhas com parte da construção de imagem das empresas dele, tu estás sempre de olho nas redes sociais, caso ache que algo é too much para poder "dar um toque" e até mesmo avisar que tem gente se movimentando sobre o assunto. Mas o que fazer com essas informações e como elas irão influenciar na forma como o cliente constrói sua imagem no ambiente digital passa a ser uma decisão única e exclusiva do proprietário. Alguns levam em consideração, outros nem tanto. Existe um limite até onde devemos meter a colher. E, em muitas vezes, ele é bem explícito.

É lógico que o que a gente espera é que sempre nos escutem e que tenhamos argumentos suficientes para convencer o cliente sobre o melhor a fazer. E, no mundo ideal, que uma única agência ou, no máximo, duas cuidem da construção da imagem para existir um discurso único e alinhado com as expectativas dos sócios e que reverta em venda. Mas, infelizmente, não vivemos neste cenário. Continuaremos ficando de olho no que interfere no nosso trabalho diretamente ou indiretamente, mas nunca teremos o controle sobre tudo. Algo sempre vai escapar e é necessário saber desses riscos. Mas é importante termos consciência disso para não surtarmos quando alguma crise bater na porta ou saltar na timeline de alguma rede social por aí.

 

 

Autor
Jornalista, formada pela Universidade Federal de Santa Catarina, especialista em Marketing e mestre em Comunicação - e futura relações-públicas. Possui experiência em assessoria de imprensa, comunicação corporativa, produção de conteúdo e relacionamento. Apaixonada por Marketing de Influência, também integra a diretoria da ABRP RS/SC e é professora visitante na Unisinos e no Senac RS.

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