Atos desatados

Somos, todos, tocas de toques. Caramujos cujas caras sobrepujam pungências e urgências interiores. Do roçar da roça ao esbarrão das urbes, nos embaraçamos, embargamos, …






















Somos, todos, tocas de toques. Caramujos cujas caras sobrepujam pungências e urgências interiores. Do roçar da roça ao esbarrão das urbes, nos embaraçamos, embargamos, embirramos, emburramos. Precisamos de gestos - precisos ou imprecisos - para prestigiar o que é precioso. Uma boca, dois olhos, dois braços, duas mãos, dez dedos - nunca tantos fizeram tanto com tão pouco. Para prender, basta ser desprendido. Demonstrar - eis o mostruário visível do invisível.

O beijo só é transmissível por via oral.


Abraço sem carinho é muita falta de tato.


Um aceno é sempre mais que cinco dedos no ar.


Quando aplausos soam, o que menos vibra são os tímpanos.


O arrepio de prazer é o jeito da pele se emocionar.


Quem é sincero ao apertar a mão merece cumprimentos.


O gesto de afeto é uma coisa palpável até à distância.


Pessoas que têm cócegas vivem rindo disso.


Carícia é isso que toca além do local onde atinge.


Os limites do corpo a corpo não são os limites do amor.


Contato íntimo em público continua íntimo?


Etc.






O BRASIL É MESMO UM
POÇO DE CONQUISTAS.
TODAS DA COMUNICAÇÃO
SOCIAL DO GOVERNO.






Depois de várias décadas explorando
suposições e de tantos governos
extraindo exageros, finalmente agora, graças à volumosa produção de
propaganda oficial, jorra uma certeza:
já somos auto-suficientes em declarações
de inverdades petrolíferas.



DO PARLATÓRIO AO FALATÓRIO

A diferença entre o diálogo e o monólogo
é que no primeiro cabem as diferenças.


*
O assunto mais chato é aquele que o chato achata.


*
As pessoas não querem mais conversar.
Querem convencer.


*
Lero-lero, blábláblá e nhenhenhém só são
sonoramente graciosos assim, por escrito.


*
Silêncio - se não for compreendido, passa
a ser apenas mais um ruído de linguagem.


*
Palavras de baixo calão calam melhor
no mais alto escalão.


*
Se ninguém diz o que pensa, o papo é impensável.


*
Dada à fraqueza da franqueza, força de expressão
é uma expressão que já perdeu a força.


Gráfica também é fotográfica.

Admiração. Na Edição #56 da Gráfica, o fotógrafo Luis Carlos Felizardo mereceu um caderno com mais de 20 fotos, além de entrevista que amplia os horizontes dele para os leitores. Suas máquinas de grande formato parecem pequenas para a sua enorme sensibilidade. É a constatação a que se chega folheando as páginas com lenta abertura, longa exposição, olhar arregalados. Mundo afora, instituições já têm Felizardo em seu acervo. E feliz de nós que o temos em pessoa, aqui em Porto Alegre, para ver, para ler, para conversar. Admire a Gráfica e como o Felizardo a fez mais admirável.

Autor
Fraga. Jornalista e humorista, editor de antologias e curador de exposições de humor. Colunista do jornal Extra Classe.

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