Cubra Cuba

Vamos apostar: Fidel nunca vai morrer, o que é um ótimo precedente jurídico até para os não-ditadores ? eu, inclusive. Se não morrer, não …
























Vamos apostar:
Fidel nunca vai morrer, o que é um ótimo precedente jurídico até para os não-ditadores - eu, inclusive. Se não morrer, não há porque se preocupar com Cuba, que vai continuar parecendo o que nunca foi ou sendo o que nunca pareceu - escolha aí.

Se Fidel morrer, contrariando as expectativas dele próprio e sobretudo as de seus inimigos, que desejam isso desde que faltavam 50 anos pro octagésimo aniversário dele, aí começam e não terminam mais as preocupações com Cuba.


Primeiro, pela óbvia possibilidade do castrismo ir adiante. Até aí tudo bem, como diria um cubano numa bóia em meio do caminho para a Flórida. Fidel não poria um estranho no ninho e por isso o irmão foi eleito em casa - ele tem o DNA do autoritarismo, não vai deixar que tudo que Fidel controlou em décadas seja
perdido em meses. Para o espírito de Fidel, pelo menos, fica garantido que não haverá eleições tão cedo e que o povo cubano não precisa se preocupar com uma invasão da democracia. Uma preocupação que se inicia nessa irmandade e avança pela descendência. Nesse caso, eles que são cubanos que se entendam.


Em segundo, é a chance muito real e próxima do invasor Número Um do Mundo decidir que ele e os mariners dele têm que resolver os "problemas" internos de Cuba. Aí é o charuto torce pro lado errado.


Cuba, aquela admirável ilha habitada por cidadãos tão encantadores (quando cantam, dançam, fazem teatro ou cinema ou literatura ou, simplesmente, quando vivem suas não-tão livres vidas, amando e sonhando como qualquer povo) que nem parecem fidelistas, essa Cuba deve ser deixada em paz. Quer dizer, uma paz local, nascida lá da vontade deles, acertada ao modo deles. entre eles. Como qualquer país não fidelizado. Ou como tantos já "ajudados"pelos EUA em nome de uma liberdade que eles mesmos se encarregam de destruir assim que põem a bota na soleira da fronteira.


Bão, são impressões mais superficiais que o levantamento do Gúgol Earh em riba de Cuba; tudo que sei de Cuba não rende um caderno turístico ou um volume de coleção-primeiros-passos. Limitado assim, política e ideologicamente, só posso palpitar e o meu palpite é que desta vez temos que agir por antecipação.


Cubra Cuba de atenção. Mande cartas, emails, mensagens, o escambau, pra
embaixada americana. Enquanto Fidel está respirando. Ou você aposta na imortalidade do comandante?




Como é que pode um imenso país reeleger
para presidente um ignorante sem tamanho,
tão despreparado para governar?
(Ei, eu me refiro aos Estados Unidos e ao Bush.)


Indagações em dupla,
inquietações em dobro.

A gente vai à loucura ou é ela que vem até nós?
*
A metafísica não tá com nada ou o nada é que faz parte dela?
*
A preguiça é a mãe dos vícios ou mãe é que vicia na preguiça?
*
A dor ensina a gemer ou o gemido é que instrui o dolorido?
*
A imbecilidade toma conta de você ou você é que se ocupa com ela?
*
A justiça é cega ou a cegueira é que é injusta?
*
A morte chega na hora certa ou a pontualidade é nossa?
*
Etc.


Parodiando o poeta D. H. Lawrence:
Eu não tenho nada contra as sanguessugas,
elas não põem o meu dinheiro no banco.
Já os sanguessugas do Congresso?
Doutor, divago.

Sou da safra de 1946, quando o planeta tinha mais chão do que se vê agora.
Andei tanto de pé no chão que às vezes seguia meu próprio rastro só pra ver
em que fase da minha vida ia parar. A infância dava voltas, e o eixo podia
ser um cheiro no ar, um som curioso, uma bobagem sem origem nem objetivo.
Cigarras e vagalumes valiam por um zoológico. Alguns mistérios profundos
se agitavam no varal das roupas íntimas. Meu farol de Alexandria rendia um
livro velho e uma nuvem de picumã a cada ¼ litro de querosene. Das tantas
maneiras de um temporal se armar, me encharquei em todas e de algumas
ainda estou úmido. Valos e valetas estavam no mapa, uma cartografia de
sombras e profundidades inesquecíveis. As penugens pelo corpo, arrepios
novos, sem nenhum sopro ao redor. Terrenos baldios convidativos e quintais fechados tentadores. A gente corria; correrias por besteiras, por cachorro louco, por chamado de mãe, e correrias sem pressa, pra matar o tempo que tanto sobrava. Fiapo de grama na boca, mão no bolso, um crescendo na imaginação. Tamancos lá longe e a adivinhação da pessoa: homem, mulher, guria - guria!
O azul do céu não saía do céu, a não ser que já fosse outra estação. O grude
das pandorgas preteando nas mãos, e o garrão encardido por falta de banho. Um teco-teco no ar e sua chuva de papelzinho, um alarido em meio ao mormaço.
Poços fundos, sempre poços, nunca torneiras nas casas. E bicas de rua, secas e ardentes, resfolegantes. E tempo livre para relembrar o distante verão anterior,
ou inverno passado, ninguém nem lembrava deles direito, tanto tempo já passara.
Galos cantavam, como cantavam os galos. O rio criava marolas ao redor dos jatos das nossas mijadas. Mamoneiros eram uma amazônia aqui e ali. Havia purgantes
e piolhos, neocid pra uns, rícino pra outros. Guirlandas de laranja de umbigo adornando o rés de muros? Sei, doutor, divago. Mas, pela primavera antecipada
aí nas árvores da cidade, a natureza também.



"Anti-semita" - taí uma expressão bombástica.

Autor
Fraga. Jornalista e humorista, editor de antologias e curador de exposições de humor. Colunista do jornal Extra Classe.

Comentários