Decida por mim

A democracia é trabalhosa. As pessoas têm que se por a pensar, a refletir, a discutir e a respeitar os pontos-de-vista da maioria. Esta …

A democracia é trabalhosa. As pessoas têm que se por a pensar, a refletir, a discutir e a respeitar os pontos-de-vista da maioria. Esta é a base do regime democrático. E, pasmem, a maioria das pessoas não gosta disto. As pessoas, em diversas ocasiões, manifestam seu desejo de que os outros decidam por elas.
Claro, mais confortável. Não é preciso pensar, "se incomodar". Os eleitores brasileiros têm feito isto. Uma vez eleitos seus representantes, largam de mão. Não acompanham seus atos, não ligam, não enviam emails, não cobram, nada. Como se a sua parte (dos eleitores) já tivesse sido feita. "Agora, é com eles". Só que, assim, são eleitos Severinos. São (quase, na última ocasião) aumentados de maneira absurda os vencimentos dos deputados. A eleição jamais pode ser vista como o "lavar as mãos" da democracia. Fiz a minha parte. Não, não fez não. Fazer a sua parte é participar. É opinar, é refletir. E refletir é, muitas vezes, questionar e gerar dúvida. Ninguém gosta da dúvida. Todos queremos, como nos filmes americanos, ter a infalível certeza do mocinho.
Também a democracia não pode ser vista como um incômodo. Ela requer mais participação, envolvimento e informação? Sem dúvida. Mas não corremos o risco de que decisões contrárias a nossa vontade e pensamento sejam tomadas. Muitas pessoas defendem a volta do regime militar, pois não vêem utilidade na democracia. A estas pessoas eu computo duas coisas: um: uma amnésia incrível do que foram os Anos de Chumbo no Brasil, em que bastava ser questionador para ir para o Doi Codi e ser torturado (independentemente de ser ligado a qualquer movimento político, só era necessário que alguém levantasse alguma suspeita); dois: uma preguiça incrível.
A vida requer, sim, responsabilidade. Seja ela na democracia, na eleição, seja ela na criação dos filhos, no trabalho. Sem envolvimento, não há solução. Já dizia a propaganda do Gelol: não basta ser pai, tem que participar. O conceito estava e está corretíssimo. Dá mais trabalho participar? Claro que dá. Mas dá muito mais satisfação acompanhar o passo-a-passo do seu filho. Assim como, no que se refere ao trabalho, poder olhar para trás e dizer que aquela obra ali é sua, do alicerce ao telhado, teve sua mão.
Assim, esta coluna é um manifesto contra a preguiça. Contra o decida por mim. Não quero ninguém decidindo por mim. Quero ter erros e acertos, mas meus, somente meus. Quero a liberdade de errar e acertar, pois esta é a mágica da vida, esta pequena grande obra que cada um constrói em torno de si.
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