Deixa a energia do som te levar

Noite de quinta-feira, 15, Bar Opinião em Porto Alegre, e um BAITA show do Natiruts. Os ingressos já tinham se esgotado há dias, o que fez a produção contratar mais uma apresentação, na noite anterior. O lugar estava lotado - mas confortável - e a galera com uma energia incrível, característica do ritmo e do ambiente.

Quando a banda entrou no palco, observei que muitos pegaram seus celulares e filmavam o início. Daí, comecei a refletir sobre o quanto perdemos de vivenciar por inteiro alguns momentos únicos, com a intenção de compartilhar ou armazenar mais um vídeo na memória do celular, ao invés de usar o nosso próprio HD. Porque no momento que estamos com o celular na mão, perdemos a atenção direta do palco. Assunto que não é novidade para ninguém, mas que inspirou o texto de hoje.

O celular faz parte da gente e não estou aqui para dizer que ele deve ser esquecido em momentos como esses. Porém, acho que registrar uma música predileta, uma foto ou dar uma olhada se alguém ligou, por exemplo, faz parte. Tenho a mania de abrir o bloco de notas e fazer pequenos registros do que me inspira para escrever depois, para não ser traída pela memória, e já achei um desperdício de tempo ficar digitando ao invés de voltar os olhares para o show. Porém, era necessário e fiz o mais rápido possível, para não perder quase nada.

Foi então que notei uma pessoa perto de mim que estava ali, mas não estava, saca? O cara passou o tempo todo olhando para o telefone e eu não estou exagerando. Aconteceu de fato. Ele chegou a abrir o Shazam para tentar identificar uma música (super conhecida) que todos cantavam e ele não. Daí, perguntei-me: o que será que faz este cara estar aqui? Ele não conhecia nem um dos clássicos da banda, por que não ficou deitadão em casa, com o sinal de WiFi bombando, o ar condicionado no 15Cº e conferindo todas as redes sociais? Gente, ele não tinha o que buscar no celular, eu me prestei a observar, ele percorria o dedo no feed do Instagram, assistia os Stories um atrás do outro, abria o Face e por aí vai. Estava em todos os outros lugares ao mesmo tempo, ao invés de curtir justamente o que estava. O motivo que fez ele ir ao show eu desconheço, mas já que foi, por que não aproveitar então, né?

Ele perdeu uma baita oportunidade de ser feliz, de se contagiar com toda a vibe positiva que o Natiruts tem o dom de deixar pelo ar, da qualidade individual de cada integrante da banda - que a iluminação dá outro show em destacar. Em resumo, foram duas horas tão legais para quem estava ali, por inteiro, curtindo cada canção.

A reflexão que fica é quantas outras oportunidades são desperdiçadas de estarmos por completo com alguém ou em algum lugar, por estarmos mergulhados na tela de um smartphone, que pode esperar e ser acessado em qualquer outro momento. Talvez a gente precise mesmo é de um pouco mais de liberdade pra dentro da cabeça.

Autor
Grazielle Corrêa de Araujo é formada em Jornalismo, pela Unisinos, tem MBA em Comunicação Eleitoral e Marketing Político, na Estácio de Sá, pós-graduação em Marketing de Serviços, pela ESPM, e MBA em Propaganda, Marketing e Comunicação Integrada, pela Cândido Mendes. Atualmente orienta a comunicação da bancada municipal do Novo na Câmara dos Vereadores, assessorando os vereadores Felipe Camozzato e Mari Pimentel, além de atuar na redação da Casa. Também responde pela Comunicação Social da Sociedade de Cardiologia do RS (Socergs) e da Associação Gaúcha para Desenvolvimento do Varejo (AGV). Nos últimos dois anos, esteve à frente da Comunicação Social na Casa Civil do Rio Grande do Sul. Tem o site www.graziaraujo.com

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