“Do bem”

      Em tempos de Fórum Social Mundial, meu assunto só poderia ser este: empresas e países "do bem".       Há algum tempo, muitos empresários e executivos &

      Em tempos de Fórum Social Mundial, meu assunto só poderia ser este: empresas e países "do bem".
      Há algum tempo, muitos empresários e executivos tomaram consciência de que o único caminho possível de vislumbrar um futuro para o nosso mundo seria o da responsabilidade social. Desde então - e felizmente - proliferam empresas que, juntamente com suas questões ordinárias, envolvem-se em projetos sociais. Uma das pioneiras neste sentido foi a Linck, com o projeto Pescar. Começou a se preocupar com o futuro em uma época em que nem se falava nisto. Hoje, temos inúmeras empresas engajadas de corpo e alma nestas iniciativas: Gerdau, RBS, Telefônica, entre muitas outras.
      Como era de se esperar, o mercado passou a reconhecer nestas empresas um diferencial (sua preocupação com a sociedade), que veio a se constituir em um diferencial competitivo. São o que chamo de empresas "do bem", ainda que algumas procurem envolver-se em projetos sociais unicamente com objetivo de ampliar sua participação de mercado, não com preocupações genuinamente sociais.
      E os países, como ficam? Agora no dia 30 de janeiro foi veiculada uma matéria no Jornal do Comércio sobre o Fórum Preparatório Rio+10. Foram discutidas as alterações climáticas na Terra. Algumas conclusões que, para mim, soam aterrorizantes: se não for modificada a situação rapidamente (no que se refere à emissão de poluentes e desmatamento), o aquecimento da Terra continuará, e poderá atingir 5,8 graus até 2006 (equivale a 41% de aumento na temperatura global desde 1800). As secas e os furacões mais do que duplicaram desde 1950. Um dos grandes responsáveis continua sendo os Estados Unidos que, sozinho, é responsável por 36% do gás carbônico emitido nos países do Primeiro Mundo. Apesar deste dado impressionante, o presidente George W. Bush não aderiu ao protocolo de Kyoto, pois as ações indicadas pela adesão ao protocolo, na visão do presidente, afetariam a economia americana.
      Entro, então, na questão principal, e que, sem dúvida alguma, envolve o marketing. Assim como as pessoas já demonstram sua preferência por empresas "do bem", que se preocupam com o futuro, em breve elas passarão a demonstrar sua preferência por países "do bem".
      Imagine você, leitor, estar comprando determinado produto e, em seguida, ser veiculada uma matéria mostrando que a empresa fabricante é responsável por altos índices de poluição, desmatamento e mortandade de animais. Certamente, você deixaria de consumir o produto, buscando um sucedâneo fabricado por uma empresa mais responsável, não é?
      O mesmo vai acontecer com os países, podem acreditar. Os Estados Unidos encontram-se, sem dúvida, em uma posição de liderança absoluta no mundo, tanto em termos econômicos como culturais, no sentido de impingir sua cultura ao resto do mundo. Mas, na medida em que aumente esta consciência dos cidadãos do mundo todo, os Estados Unidos poderão sofrer sérios prejuízos em sua imagem, tendo consequências econômicas bastante representativas. Basta lembrarmos o baque que foi o atentado de 11 de setembro, em termos econômicos: hotéis vazios, queda enorme no número de viagens para os Estados Unidos, prejuízos incalculáveis para o turismo. Tudo isto apenas por uma possibilidade de que viessem a acontecer novos atentados por lá.
      Agora, quando começarmos a ver que os Estados Unidos estão mais preocupados com a sua economia, a qualquer preço, do que com a sobrevivência da espécie como um todo, que resultado teremos? Nem a melhor estratégia de marketing poderá reverter a imagem negativa que estará criada, com prejuízos econômicos muito sérios. Isto não vai acontecer hoje, nem amanhã, mas se nenhuma providência responsável for tomada pelo presidente George W. Bush, vai terminar acontecendo.
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