É a econocopa, estúpido!

Por Flávio Paiva

Fato consumado é o de que (ao menos até o início da Copa) há um desinteresse por parte de 53% dos brasileiros do que ocorrerá naquele que sempre foi o maior evento, impulsionador da venda de aparelhos de TV e eletroeletrônicos, celulares, tablets, impulsionador da venda de pacotes PPV, de aumento da audiência/afluência em bares e restaurantes que disponibilizavam (e faziam promoções, como chopp dobrado, por exemplo), implementação da venda de artigos esportivos (dentre eles, a camiseta da própria seleção Canarinho), promoções de marcas patrocinadoras do Mundial, das empresas detentoras de contratos de TV (no Brasil, a TV Globo), de empresas interessadas em realizar o ambush marketing, enfim, um universo de ações e naturalmente de dinheiro sempre foi tradicionalmente movimentado. Tudo isto naturalmente para uma audiência ávida e numerosa. Parece que as coisas mudaram, ao menos no Brasil.

Não que as promoções, comerciais de TV, eventos, ações de marketing não estejam sendo realizadas. E que MUITO dinheiro esteja envolvido. Mas quando 53% da população diz que não tem nenhum interesse no Mundial, algo está errado. Ou mudando.

Não é fácil ter uma resposta única. Vivemos atualmente em um Mundo Líquido, como várias vezes já citei aqui. As fronteiras, certezas e pilares liquefazem-se, tornando o universo e o futuro incerto e mais difícil de prever. E, portanto, as ações de empresas patrocinadoras ou interessadas em pegar uma carona no Mundial, bem mais difíceis. O Mundo Líquido de Zygmunt Bauman está acontecendo no universo mundial e também (e por consequência) no universo íntimo das pessoas. As coisas reconfiguram-se. Muitas não voltam a ser nem uma sombra do que eram. Migram, transformam-se, quase se desfigurando. Parte da explicação.

Mais uma parte da explicação vem do fato de que o futebol está perdendo interessados ao redor do mundo, cedendo espaço por exemplo, para os esportes, crescendo a galope. Se observarmos o interesse dos mais jovens, eles não apenas perderam o interesse por futebol, mas voltaram seu olhar, interesse e bolso para esta relativamente nova modalidade de esportes. Temos ainda outras modalidades como MMA ganhando espaço significativamente.

Agora, passemos ao ambiente político brasileiro: há uma total indefinição do que será o resultado destas eleições de outubro, considerando que estamos em junho! Fatores como desinteresse pela política (pelo cenário adverso que se coloca, bem como pelos intermináveis escândalos de corrupção em todos os âmbitos e partidos), vão tornando a população mais cética e achando que a política não resolve, não é a maneira de fazermos frente aos nossos problemas (embora eu discorde veementemente). Estão à busca de um outsider ou um salvador da pátria, que venha com uma solução mágica (já vimos várias vezes este filme antes, bem como seus resultados).

Colado ao ambiente político, está o cenário econômico: a situação econômica, se melhorou um pouco, melhorou muito pouco para que a grande massa dos brasileiros sinta esta melhora. No bolso, nas compras, no salário, no nível de emprego/desemprego e a soma ambiente político + cenário econômico dá um verdadeiro desalento. Mas desalento não foi e nem é a solução. Mas, como já foi dito: "É a economia, estúpido!"

Por fim, podemos citar a recente greve de caminhoneiros e empresários, fazendo do povo refém, ficando desabastecido de combustível, mantimentos, itens de saúde (medicamentos, suprimentos de hospitais, etc.) e muitos outros, mas fazendo com o que o povo se desiludisse e se sentisse à deriva, em uma paralisação que durou 10 dias, mas que vem com uma conta que levará muitos anos até ser paga.

Alguns dirão que uma conquista no futebol poderá resgatar a autoestima do brasileiro, tão em baixa. Meu receio é que ela possa mascarar a situação (mesmo que temporariamente), fazendo-nos crer que nossa situação é vitoriosa, quando estamos em um cenário realmente difícil.

Por tudo isto (e mais alguns fatores que se eu fosse citando tornaria a coluna quase um livro), o desinteresse do brasileiro na Copa do Mundo. Talvez este interesse cresça, caso a seleção brasileira vá obtendo conquistas, belas atuações. Mas boa parte destas ações, eventos, vendas, é perecível. Não será recuperada e o prejuízo (mais um) estará configurado. E você, faz parte dos 53% ou dos 47%?

Dicas do Guion

O que não tem nenhum desalento, mas entusiasmo e projeções de altíssima qualidade com uma seleção de primeiríssima de filmes, é o Guion. Além de sua programação de elevado nível, as salas do Guion estão recebendo até o dia 20/6 o Festival Varilux de Cinema Francês. Um dos raros cinemas de Porto Alegre que recebem esta distinção - e não por acaso. O Guion se tornou um polo de qualidade cinematográfica, comandada pelo seu diretor Carlos Schmidt, que com cuidado, zelo, conhecimento e muito critério tem brindado os porto-alegrenses, gaúchos, brasileiros e visitantes de toda ordem com a melhor seleção de filmes. Mas vamos aos filmes:

PRÉ-ESTREIAS: FESTIVAL VARILUX DE CINEMA FRANCÊS: GUION CENTER 1 unicamente dedicado ao Festival. Confira sinopses, trailers, fichas técnicas e tudo o mais em variluxcinefrancês.com/2018/

Cinema de altíssima qualidade, diretores e atores idem. Sinta todas as emoções pelo mix de filmes.

Estreia

ENTRE-LAÇOS (Japão, Drama, direção de Naoko Ogigami, 127 min)

VINGANÇA (França, Suspense-Ação, direção de Coralie Fargeat, 108 min)

AS BOAS MANEIRAS (Brasil-França, Fantasia-Drama, direção de Juliana Rojas e Marco Dutra, 135 min)

PRÉ-ESTREIA

DESOBEDIÊNCIA (EUA, Drama-Romance, Direção de Sebastián Lelio, 114 min)

Em cartaz

Seguem ainda em cartaz os excelentes A Morte de Stálin e A Amante.

Você tem apenas TODOS os motivos para ir!  

 

Comentários