E essa greve, hein?

Então, minha gente, não tem como começar esta semana sem falar na greve dos caminhoneiros que, de certa forma, parou o Brasil, né? Não quero entrar no mérito da questão, já que é notório que somos um País dependente do sistema rodoviário e do petróleo. Estamos nas mãos da Petrobras há tempos e do nosso infame sistema tributário. E, como bem sabemos, as coisas só funcionam por aqui sob pressão. Não tenho dúvidas que existem alguns empresários envolvidos. Podem não ser a maioria, mas que alguns estão forçando alguns empregados a ficarem parados, ah, isso estão. E nem vou entrar no assunto do povo pedindo intervenção militar porque vergonha alheia tem limite.

O que me causou um certo espanto, na verdade, foi o desespero que tomou conta de algumas pessoas quando começou a se falar em racionamento de combustível e de gêneros alimentícios. As fotos que começaram a chegar na quinta-feira passada pelas redes sociais e pelo Whatsapp me pareceram surreais: gôndolas nas quais ficavam os pães no Zaffari (em mais de um) completamente vazias. Fiquei pensando o que mais esse povo estava levando para casa além disso. Porque vamos combinar que ninguém consegue ficar muito tempo comendo só pão e nem o produto tem uma validade muito longa, né? Como diziam alguns amigos, parecia que teríamos um ataque zumbi ou uma catástrofe natural estava prestes a acontecer. Achei meio fiasquento.

Fiquei lembrando o temporal que destruiu bastante coisa na Cidade Baixa em janeiro de 2016, quando algumas casa e prédios ficaram dias sem luz e sem água, que a comida começou a estragar, não se conseguia comprar água e nem gelo, não tinha como mandar a carga do celular sem ser esperando numa fila no supermercado que colocou uma tomada à disposição da vizinhança. A gente tentava comprar o que não estragaria muito fácil e nem precisasse de geladeira. Quem tinha grana foi para hotel. Quem não tinha, tentava a casa de algum amigo ou parente que ainda tinha água e luz, ou tomava banho de canequinha mesmo. Não foram dias fáceis. E foi a partir de um acontecimento que ninguém esperava.

Também fiquei lembrando a década de 80, quando tinha racionamento e hiperinflação, quando meus pais iam uma vez por mês ao supermercado para fazer rancho e estocar alimento em casa porque nunca se sabia o preço do dia seguinte. Inclusive, quando a gente vinha a Porto Alegre de Santa Catarina, era obrigatória a passagem no Makro na volta para suprir o estoque e não correr muitos riscos. O pão a gente deixava para comprar na padaria perto de casa ou se fazia em casa mesmo.

Outra coisa que me chamou a atenção foi o alarde que a imprensa fez com essa situação toda. Pelo menos lá em Santa Catarina, onde passei o final de semana. Tudo bem com a cobertura da falta de gasolina nos postos de combustíveis, o serviço público informando o que estava funcionando no transporte urbano, no aeroporto e afins. Mas quando começaram a mostrar a questão dos mantimentos, era só tiro no pé. Apresentavam um freezer mais cheio do que vazio de carne e diziam que só tinha sobrado picanha e filé mignon. Entrevistaram uma senhora dizendo que não tinha mais nada para comprar e atrás dela tinham gôndolas refrigeradas cheias de comida. Ou seja, não tinha o que ela queria comprar, mas alimento tinha.

Aí, precisei de algumas coisas do supermercado e resolvi caminhar até um Angeloni próximo da casa do meu irmão, onde estava hospedada. Na rua, tudo normal para um sábado de Outono, inclusive, o movimento de carros na Beira-Mar Norte. Passei por dentro do Iguatemi Shopping, tudo normal também. Quando cheguei ao mercado achei que ia encontrar um pandemônio e estava tudo bem tranquilo. Gôndolas cheias de frutas, de hortaliças, de carne (uma fila pequena no açougue), a parte do pão estava um pouco bagunçada, mas nada fora do contexto. A única coisa que estava faltando (escutei uma senhora perguntando para um atendente) era ovo. Pouco tempo depois, passa do meu lado uma criatura com um carrinho com seis galões de água de cinco litros. Esse estava se preparando bem. 

Comprei um pedaço de queijo e castanha de caju, um pedaço de carne, um creme de leite sem lactose, batata palha, um chocolatinho e duas garrafas de vinho nacional (prioridades) e voltei para casa. Tudo na mais santa paz e sem stress algum. Ainda estou tentando entender quem começou o movimento de que o apocalipse zumbi estava chegando: as pessoas que foram enlouquecidas para os supermercados ou a imprensa que estimulou esse comportamento. Agora dizem que os petroleiros irão parar na quarta-feira, dia 30. Vou ficar aguardando cenas dos próximos capítulos bem de boa. De que adianta entrar em pânico, não é mesmo?

Autor
Jornalista, formada pela Universidade Federal de Santa Catarina, especialista em Marketing e mestre em Comunicação - e futura relações-públicas. Possui experiência em assessoria de imprensa, comunicação corporativa, produção de conteúdo e relacionamento. Apaixonada por Marketing de Influência, também integra a diretoria da ABRP RS/SC e é professora visitante na Unisinos e no Senac RS.

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