É ouro feminino. É do Nordeste. É do Brasil. É Bolsa-Atleta

O primeiro ouro do Brasil nas Olimpíadas de Londres é emblemático. Quem subiu ao pódio para exibir a medalha reluzente foi uma mulher. Uma …

O primeiro ouro do Brasil nas Olimpíadas de Londres é emblemático. Quem subiu ao pódio para exibir a medalha reluzente foi uma mulher. Uma pequena figura feminina de apenas 1,52 metros e 48 quilos que conquistou o primeiro ouro na história do judô feminino, o terceiro no judô em geral e o segundo das mulheres brasileiras no quesito esporte individual. Antes de Sarah, somente Maurren Maggi havia ganho a medalha de ouro em prova individual na história das Olimpíadas, no salto em distância, em Pequim, 2008. Pois a judoca de 22 anos fez mais do que levantar o ouro olímpico e emocionar um País inteiro ao ver subir a bandeira nacional e escutar o hino brasileiro na cerimônia da entrega das medalhas.
Sarah Menezes calou a boca de quem fala mal do Nordeste. Daqueles sem noção que se imaginam melhores porque nascem ou vivem no Sul ou no Sudeste. Daqueles sem ideologia que na última eleição postavam ofensas ao povo nordestino nas redes sociais. Dos que insistem em dividir este imenso Brasil em dois opostos que deveriam se odiar. Sarah Menezes, a peso-ligeiro da seleção brasileira, silenciou, ainda que provisoriamente, aqueles que perdem tempo falando mal de algumas políticas do ex-presidente Lula que já cansaram de provar os seus resultados. A esportista tem o auxílio do programa Bolsa-Atleta, criado no primeiro governo de Lula, em 2005.
A judoca, natural de Teresina (capital do Piauí, porque até então talvez nem todos soubessem), é uma das beneficiadas pelo Bolsa-Atleta. Segundo dados do Ministério dos Esportes, que coordena o programa, o maior de patrocínio individual de atletas no mundo, existem atualmente 1.744 mulheres contempladas com o benefício, 29,2% a mais do que as 1.349 de 2011. Para Sarah, que enfrentou dificuldades financeiras para investir mais na sua carreira, uma vez que é de família pobre, o Bolsa-Atleta foi uma solução. "Sei que sou um exemplo no judô porque não sou dos grandes centros. E serei ainda mais depois disso?", declarou a medalhista entre tantas entrevistas que concedeu após ganhar o ouro.
O Bolsa-Atleta proporcionou a Sarah o prosseguimento nos esportes e nos estudos. A judoca cursa o quinto período do curso de Educação Física e mantém o treinamento na sua cidade natal. Depois do apoio do programa federal, ela tem três patrocínios privados para os treinamentos. O Bolsa beneficia os esportistas de alto rendimento que não possuem patrocínio e nem condições de se dedicaram exclusivamente ao esporte. Através do programa, o Governo Federal repassa uma contribuição mensal, que varia conforme os resultados do atleta. Os valores repassados são de R$ 300 para o nível estudantil, R$ 750 nacional, R$ 1,5 mil internacional e R$ 2,5 mil para categoria olímpica e paralímpica.
Para nós brasileiros e brasileiras, acostumadas a ver o choro toda vez que um atleta com possibilidade real de medalha "amarela", uma nordestina exibindo um largo sorriso é mais do que um ouro olímpico. Para nós mulheres, habituadas às triplas jornadas e ainda uma enorme discriminação salarial ou na divisão de tarefas, quando elas ocorrem, o braço levantado da judoca representa o braço da vitória feminina acumulada há alguns anos. Para aqueles cansados do discurso enfadonho dos neoliberais, o ouro é de quem investe, mesmo sob críticas, no esporte. 

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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