Internet, Copa do Mundo e cartas

      Os sites na Internet têm uma grande vantagem sobre os jornais, em especial nesta Copa do Mundo, quando a diferença de fuso horário chega …

      Os sites na Internet têm uma grande vantagem sobre os jornais, em especial nesta Copa do Mundo, quando a diferença de fuso horário chega a 12 horas: eles estão atualizados, ao passo que o jornal que chega ao leitor pela manhã inevitavelmente está defasado.
      A propósito disto, foi muito interessante a idéia da Zero Hora de fazer um caderno de esportes dividido na diagonal. Uma metade falava sobre a vitória do Brasil, várias páginas dedicadas ao tema. A outra metade, de cabeça para baixo, falava sobre a derrota, também dedicando várias páginas para o tema. O projeto foi caprichado, pois mesmo as fotos eram bem selecionadas: na parte de vitória, fotos de sorrisos, comemorações; na de derrota, fotos com a tristeza estampada nos rostos dos atletas, torcedores e comissão técnica.
      Mas voltemos ao começo da coluna. Considerando, então, esta diferença de horário, os grandes sites estavam esperando grande audiência. Tudo porque as pessoas deveriam se conectar após os jogos, de uma certa forma substituindo (ou somando a ela, talvez seja mais exato) a leitura das páginas de esporte dos jornais. O motivo, é claro, obter informação atualizada.
      Porém, como no Brasil temos somente 13,6 milhões de brasileiros com acesso residencial à Internet (somente 16% com acesso de alta velocidade), o índice de leitura da seção de esporte dedicada à Copa dos jornais talvez não sofra tanto prejuízo. Os jornais estão se esforçando em tornar estas páginas mais interessantes e quebrar o sofisma de Mário Quintana de que "não há nada mais velho do que um jornal do dia anterior." Apesar do jornal ser do dia, as notícias são mais antigas do que as noticiadas pela Internet.
      A solução foi a de sempre e a melhor: criatividade. Os jornais aprofundaram, trouxeram informações sobre os países onde estão acontecendo os jogos, curiosidades, etc. Do meu ponto de vista, com sucesso. Resumindo: apesar de acreditar no aumento de audiência da Internet (eu mesmo o faço logo pela manhã para ver as notícias da Copa do Mundo), este aumento não causou grande prejuízo para os jornais, do ponto de vista do índice de leitura.
      Fenômeno semelhante foi recentemente divulgado com relação a cartas enviadas pelo correio. Apesar do boom da Internet, do crescimento (exagerado) da utilização do correio eletrônico como forma de comunicação, cresceu consideravelmente o número de cartas enviadas pelo correio.
      Vamos aos dados. Quando a Internet ainda dava seus primeiros passos, em 1994, os brasileiros enviaram três bilhões de cartas pelos Correios. Em 2001, o número de internautas chegou a 10 milhões. O surpreendente é que o número de cartas saltou para sete bilhões, um acréscimo de 133%.
      Este fenômeno pode ter várias explicações: uma delas é o percentual de brasileiros que têm acesso à Internet, ainda baixo (menos de 10% da população); a outra é a "proximidade" que só mesmo uma carta escrita à mão pode proporcionar. Por mais que incluamos símbolos (carinhas, como ";-)") para dar mais vida ao e-mail, dificilmente ele consegue ter o "calor" de uma carta. Além disto, o e-mail deve, por natureza, ser mais conciso e breve. Além disto, muitas pessoas não-alfabetizadas ditam suas cartas para escreventes, como fazia Dora (interpretada por Fernanda Montenegro), no filme "Central do Brasil". Ainda não existe a figura da pessoa que escreve e-mails para quem os dita. Finalmente, ainda é baixo uso da Internet e e-mail para comunicação pela maior parte das pessoas com mais idade. A maior parte não utiliza a Internet como veículo de comunicação, muito menos para substituir as cartas.
      Com isto, quero dizer que, apesar de ser eu mesmo um usuário contumaz da Internet e fã ardoroso da mesma (certamente uma das maiores invenções da humanidade), tenho que reconhecer que ainda falta um longo trecho para que a Internet se afirme como um meio de correspondência que realmente faça frente às cartas.
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