Las mariposas do mundo afora

No domingo, 25 de novembro, é celebrado em todo o mundo o Dia Internacional da Não Violência contra a Mulher. A data, instituída em …

No domingo, 25 de novembro, é celebrado em todo o mundo o Dia Internacional da Não Violência contra a Mulher. A data, instituída em 1999 pela ONU, homenageia as três irmãs Mirabal (Pátria, Minerva e Maria Teresa), ativistas políticas que se opuseram à ditadura de Rafael Leônidas Trujillo, na República Dominicana, e foram brutalmente assassinadas nesse dia, em 1960, pelo regime ditatorial. É mais uma marca no calendário para lembrar que, diariamente, ainda, meninas, jovens, adultas e idosas são vítimas da violência. Em Porto Alegre, no Rio de Janeiro, na cidade africana ou na alemã, no bairro nobre ou na periferia. Tanto faz. A violência prolifera e mata.
Um tapa de leve porque tem gente que ainda acredita que um tapinha não dói. Um beliscão disfarçado em alguma fila qualquer. Uma bofetada porque ousou pensar. Um vermelho na coxa porque não quis deitar com o amante depois de um dia de trabalho. Um roxo no peito porque disse que estava com dor de cabeça e realmente estava. Tudo é motivo para a violência. E o crime está cometido. Mas nem sempre gera Boletim de Ocorrência (BO). O medo de represália, a vergonha perante as autoridades ou o simples desconhecimento inibe o crescimento das estatísticas. Às vezes, dorme-se anos e anos com o inimigo.
Apesar disso, as estatísticas no Brasil são assustadoras. A cada sete segundos uma mulher é agredida em seu próprio lar e 51% da população brasileira declaram conhecer ao menos uma mulher que é ou foi agredida pelo seu companheiro. Na terra do Carnaval e do futebol, 23% das mulheres brasileiras estão sujeitas a este tipo de violência.
Dados da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República atestam que os casos se multiplicam no Brasil. Dos 561.298 atendimentos realizados pela Central de Atendimento às Mulheres (Ligue 180), no período de janeiro a setembro deste ano, 68.396 foram denúncias de violência, principalmente física (38.535). Do total, 27.638 mulheres afirmaram sofrer violência diária, sendo que 19.723 admitem que experimentaram risco de morte. E, em 27.329 dos casos, os filhos presenciaram os ataques à mãe. Talvez a violência do presente gere, mais tarde, a violência do futuro.
Não é um crime econômico, social, geográfico ou sazonal. É um crime perverso. Um crime hediondo de gênero. Um ato nojento de intolerância. Uma cicatriz que precisa ser curada. A única culpa que a vítima carrega é o fato de ser mulher. A agredida nasceu mulher. Adora sua condição feminina. Gosta de namorar. Idolatra seu sexo. É apaixonada pelo cabelo arrumado, a roupa engomada, o perfume sensual. Tem opinião. Tem profissão. Tem time e tem preferências políticas. Mas não é violentada por isso. Sofre porque é mulher. Apanha porque é mulher. É surrada porque é mulher. É morta porque é mulher.
Como ocorreu com Eliza Samudio, que desapareceu em 4 de junho de 2010 após sair do Rio de Janeiro para Minas Gerais, atendendo convite do goleiro do Flamengo, Bruno, com quem teve um filho fruto de um relacionamento com o jogador um ano antes. As investigações da Polícia apontam para o espancamento de Eliza até a morte, com indicações de que Bruno não só foi o mandante como pode ser sido o autor do crime.
Nesta semana, em que se celebra o Dia Internacional da Não Violência contra a Mulher e marca o início do julgamento de Bruno e seus comparsas, que as mulheres denunciem, gritem, acusem, opinem, usem saia curta, disponham de seu sexo quando desejarem. Sejam cada vez mais mulheres. Femininas de orgulho. Feministas de paixão. Humanas. 

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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