Medidas desmedidas

A vida passa e a gente a mede do jeito menos expressivo que há:relógios e calendários podem ser insuficientes para determinardiferentes períodos, fases e …

A vida passa e a gente a mede do jeito menos expressivo que há:
relógios e calendários podem ser insuficientes para determinar
diferentes períodos, fases e etapas de uma trajetória. Se se usar
percepção nos atos e imaginação nos fatos, a cronometragem não
precisa ser anual, mensal, semanal, diária ou horária.
Assim: 
Foi escritor durante um livro e meia dúzia de leitores. 
Traiu maridos por nove guarda-roupas e um parapeito
no vigésimo andar.
Trabalhou como torneiro-mecânico durante um mindinho
e como fresador durante um antebraço.
Fez carreira política ao longo de três mandatos municipais,
dois estaduais e uma CPI.
Bateu na mulher por sete filhos e uma revolta dos vizinhos.
Transou sem riscos por incontáveis camisinhas de qualidade
e uma com falha do controle.
Sobreviveu desempregado durante oito planos econômicos,
31 protestos e um desacato à autoridade.
Trabalhou na construção civil ao longo de 403 andaimes
e uma roldana com defeito.
Foi pedestre durante centenas de faixas de segurança e
um motorista sem habilitação.
Se alimentou do lixo por muitos bairros ricos e um atirador
anônimo.
Brincou no decorrer de uns quantos parques sossegados,
várias pracinhas tranqüilas e um pitt-bull sem focinheira.
Lecionou na periferia por 4.217 alunos esforçados e um
canivete numa mochila.
Foi caixa de confiança ao longo de dez empresas e uma
ocasião propícia.
Etc.
 












Se os mensaleiros forem realmente
pra cadeia, aí mesmo que os 
demais presos jamais irão se regenerar.

Predadores: tai a melhor
mão-de-obra disponível
para depredar pedreiras.

Mensalão, o maior escândalo
da história brasileira?
Melhor aguardar a próxima edição
do Guinness Book.


 
Quadrinha presa na ampulheta.
Quando eu era o que não sou agora
eu era um que hoje já não sou mais
Fui outro antes de mim e de outrora
um que amanhã será de tempos atrás.

 












Água oxigenada no leite.
A fiscalização no transporte
é tão frouxa que vão acabar
culpando alguma vaca loura.

Assim que desce pela garganta,
a água deixa de ser potável.

Há bilhões de anos chove
torrencialmente no planeta. Mas a cada
temporal, a administração pública
reage como se fosse a primeira vez.


 


 










O índice de natalidade cai
e a mortalidade infantil diminui.
Em 20 anos o RS será um asilo.

A imortalidade deve ser algo
muito bom e tranquilo.
Mas, e depois?

 
 
Decálogo de coisa nenhuma.  
I
Onde impera o nada, nem imperativos há.

II
Se nada cabe em parte alguma, o resto não tem cabimento.

III
Nada é igual a nada, por isso nada se parece com nada.

IV
Nada mais nulo que o nada, a não ser mais nada.

V
Nada pode ser descrito. Basta não descrevê-lo.

VI
Nada contém nada. Então, continente e conteúdo nada são.

VII
Nada demais é sempre muito nada.

VIII
Nada pesa. Pese o nada e confirme.

IX
Nada leva a nada. Assim nada se desloca.

X
Nada é eterno. Logo, a eternidade também é nada.

 






Para aliviar os leitores do excesso
de informação hoje em dia,
esta frase nada informa.


Autor
Fraga. Jornalista e humorista, editor de antologias e curador de exposições de humor. Colunista do jornal Extra Classe.

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