Não diga ao eleitor que ele precisa votar certo!

Imagine um entrevistador do IPO batendo na casa de um eleitor e perguntando em quem ele votou no segundo turno das eleições para Presidente na eleição de 2014! Excluindo os eleitores que têm relação orgânica com um partido político, mais de 95% da população gaúcha tem a convicção de que votou no candidato em que acreditava e foi enganado: o problema é que, o que parecia ser, necessariamente não era!

A decepção é a ocorrência mais comum entre os eleitores e a preocupação os assola dia-a-dia. Em pesquisas qualitativas o eleitor faz diversas analogias para exprimir sua inquietação, entre elas destaca-se a comparação do Brasil com um avião sem piloto. Um avião que está sendo comandado pelo 'piloto automático' e que a todo momento está sofrendo avarias. 

Este eleitor sabe que precisa votar em um piloto, em um candidato que possa assumir a condução do avião. O eleitor tem consciência de que o problema é anterior ao destino do voto, o problema está na seleção dos candidatos. Neste tipo de analogia, os eleitores afirmam que os candidatos que se apresentam "dizem que sabem pilotar, mas na verdade não tem brevê nem horas de voo, não tem condições de pilotar o Brasil".

O descrédito do eleitor com a política está se tornando imensurável e o eleitor não quer receber indiretas sobre a sua capacidade de votar, com frases do tipo: vote certo, vote consciente, vamos mudar o Brasil com o voto. O eleitor almeja por mudanças na regra do jogo, mudanças que delimitem regras rígidas para definir os candidatos aptos. Estes candidatos precisam ter lisura ética e capacidade de gestão devidamente comprovadas.

O eleitor oscila cada vez mais entre o sentimento de frustração, movido pela descrença e indignação diante das denúncias intermináveis da operação Lava Jato e o sentimento de esperança, de quem almeja dias melhores e acredita que existem pessoas bem-intencionadas que poderiam assumir a representação política, tornando-se políticos. O eleitor sabe votar, pois vota com base na cultura política existente e a cultura política existente é resultado do sistema político vigente. Bingo!

Autor
Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO - Instituto Pesquisas de Opinião em 1996 e tem a ciência como vocação e formação. Socióloga (MTB 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e tem especialização em Ciência Política pela mesma instituição. Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Elis é conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) e Conselheira de Desburocratização e Empreendedorismo no Governo do Rio Grande do Sul. Coordenou a execução da pesquisa EPICOVID-19 no Estado. Tem coluna publicada semanalmente em vários portais de notícias e jornais do RS. E-mail para contato: [email protected]

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