‘Não priemos cânico’

Com esta frase lapidar, o Chapolim Colorado tentava acalmar a todos os exaltados e ansiosos à sua volta, embora o mais nervoso certamente fosse …

Com esta frase lapidar, o Chapolim Colorado tentava acalmar a todos os exaltados e ansiosos à sua volta, embora o mais nervoso certamente fosse ele. Chapolim Colorado é uma espécie de anti-herói, frágil, nervoso e confuso. O programa mexicano era ou é veiculado no SBT. Para quem não conhece, aí está uma foto:
A questão pânico foi abordada há alguns dias por Nilson Souza, em uma coluna sua de Zero Hora. Ele, na verdade, menciona Luís Fernando Veríssimo, que diz que o pânico é quem traz sua criatividade à tona, quem o faz conseguir escrever. O pânico pelo prazo esgotado de entrega do material ao jornal ou revista. Colocado contra a parede, o escritor acaba tendo uma súbita inspiração e escrevendo. Muitas já foram as crônicas sobre páginas em branco, certamente inspiradas pelo prazo esgotado.
Um cronista é um opinador nato. Dá opinião e sua visão sobre todas as coisas, ou quase todas. Na verdade, dá seu ponto de vista acerca de questões do mundo, do cotidiano, filosóficas, futebolísticas. E o maior pânico para um cronista certamente é o de achar que não há novos pontos de vista a serem explorados. De que ele ou o mundo já viram de tudo. De que já emitiu opinião sobre aquele assunto. A famosa sensação de déja vu. Seria um déja vu da opinião. Como se o mundo estivesse se repetindo.
Isto é decorrente de um sentimento que volta e meia nos assalta, variando de intensidade de pessoa para pessoa. Sentimos que nossas vidas e o mundo seguem num ritmozinho medíocre, em que fazemos todos os dias as mesmas coisas chatas. Parece que o mundo e os homens, com suas coisas ruins, jamais mudarão. E de que jamais sairemos de nosso cotidiano cinza, chuvoso, entendiante e "Blade Runner". Há os que sentem isto uma vez por ano e há os que sentem 365 vezes. Para um cronista, é motivo de verdadeiro pânico.
Porém, para os escritores, os músicos, os artistas em geral, enfim, para quem tem sensibilidade, sempre há uma saída. É uma seqüência de notas musicais novas, no caso dos escritores. Uma luz ou cor diferente, no caso de um pintor. E, no caso do cronista, uma observação, um comentário, uma notícia, uma nota ou mesmo uma lembrança diferentes e começam a aparecer luzes por detrás das nuvens do cenário Blade Runner. Resumindo: não há nada absoluto na vida. Tudo é relativo, dependendo do ponto de vista e da maneira que encaramos. E, mesmo para os cronistas, não há motivo de alarme. Como se vê, fiquei falando sobre isto e produzi a crônica desta semana. Assim, não priemos canico.
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