No meio do caminho tinha um amigo

Direito assegurado pela CLT para todo o trabalhador honrado deste país, estou desde o início da semana gozando (ihihih, que termo bem impróprio e …

Direito assegurado pela CLT para todo o trabalhador honrado deste país, estou desde o início da semana gozando (ihihih, que termo bem impróprio e safadinho) de merecidas férias no jornal. Para alegria dos meus colegas que se livraram, mesmo que provisoriamente, dos meus bocejos escandalosos, das músicas desafinadas e repetidas (a brega "não toque em mim", por exemplo) e das risadas indecentes. Como o meu período de ócio será curto e não incluirá viagem, apenas um pit stop para turbinar as idéias, continuarei escrevendo a minha contribuição semanal aqui no site Coletiva. Sorry, leitor, não posso agradar a todos.



Fã de carteirinha de fazer um monte de coisa junto e tudo no limite e tudo ao mesmo tempo agora, deixei para escrever a coluna que sempre é baixada na quarta-feira no próprio dia. Mas, prepare o seu coração, prás coisas que eu vou contar. A minha intenção de cumprir com o ritual que adoro de escrever para o Coletiva foi atropelada pela revisão urgente de uma revista que aceitei editar e que deve estar chegando às bancas na sexta-feira, dia 21. No início da noite, na gráfica, depois de tanto conferir título, assinatura, crédito de fotógrafo, grafias, eu já pensava que focinho de porco era tomada, ou vice-versa.


Busquei a filha Gabriela no colégio (dia de aula especializada ela sai mais tarde), um banho com sais para renovar as energias e barriga cheia para o estômago não roncar, sentei para pensar e priorizar a agenda do dia seguinte. Foi quando lembrei que eu tinha, veja bem, esquecido de lembrar da coluna. E agora? Quase 22h, perdi a vez e deixei o querido editor do site encurralado. Sem chance, Márcia Fernanda Peçanha Martins, conta outra e começa já a escrever estas mal traçadas linhas que nas primeiras horas de atualização do Coletiva, alguém coloca na Internet teu texto. Deixa de preguiça e ataca as teclas do Juquinha (meu computador).


Ao abrir a Internet, um site qualquer lembra que hoje, 20 de junho (já é mais de meia-noite) é o "Dia do Amigo". A intuição feminina me dizia que era uma data marcante, embora eu jure "pelo sangue de Cristo" ser contra dias especiais, pelo menos para escapar dos presentes. Pois bem, tudo está sempre relacionado. Nada acontece por acaso (te cuida, Paulo Coelho). Amigo é amigo a qualquer hora. Pode estar caindo chuva de canivete ou abrindo um sol de rachar. Pode odiar o seu lado musical cafona ou amar que você curte o Armandinho. Pode esperar horas e horas que você telefone e depois adormecer ao ouvir tantas lamentações.


Amigo é um amor que não se quebra, não perde o encanto, não te trai, não te esquece jamais, não cansa de te ouvir, não hesita em te dizer o que você não quer ouvir e está sempre disposto a discutir a relação. Pois, no meio do mês de março, um amigão, daqueles que nem sei mesmo dizer como ele é importante, de muitos e muitos anos e jornadas, me convidou para fazer um free provisório que está significando o reencontro com pessoas e temas que me enchem de tesão. Entrei no Orkut na madrugada de quinta-feira para ver se ele tinha lido meu recado de parabéns pelo seu aniversário, no dia 17. Surpresa. No meio do Orkut, uma amiga da Famecos, de quem não sabia notícias de longa data, havia me adicionado.


No meio da noite, ao telefone, minha doce e sempre amiga "Tia Margarida" (é um apelido que poucos conhecem para que ela continue no anonimato), querendo saber do trabalho, da saúde, namorados, Gabriela e talicoisa. No meio de uma pauta, há uns 15 dias, um amigo de adolescência e noites de boêmia se lembrou de mim e indicou meu nome para a diretora da revista que estou editando, cujo trabalho me tirou a concentração da coluna. Se alguém inventou que 20 de julho é o dia do amigo, devia ser um sortudo como eu. Sempre, no meio do meu caminho, tinha um amigo.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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