O ano tem 365 dias para dar e receber amor

Por Márcia Martins

Nesta quarta-feira, 12 de junho, é comemorado no Brasil o Dia dos Namorados e das Namoradas. É muito comum, em função da data, desde cedo as ruas serem invadidas pelos lindos buquês de flores, dos mais variados tipos, desde as românticas rosas, aos sensuais cravos vermelhos, a meiguice das flores do campo, a alegria das cores vivas das gérberas ou a simplicidade das violetas. Na noite, ocorre, tradicionalmente, a lotação de cinemas, restaurantes (alguns só trabalham com reservas) e de motéis. E em todos os cantos e recantos, o que mais se vê são os olhares apaixonados dos casais, as juras eternas de fidelidade e carícias recatadas e até mais ousadas.

Como se existisse um único dia assinalado no calendário para amar. É a data ideal para declarar as melhores e mais sinceras intenções de gostar aos namorados (as), esposas, maridos, noivos e noivas, companheiros (as) ficantes e amantes. É o momento oportuno para que casais esqueçam todas as desavenças, as diferenças, as discussões e palavras ásperas ditas nestas ocasiões, para jurar que estarão unidos na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, ou reafirmar tais votos. É quando as redes sociais ficam inundadas de corações, declarações imensas de amor, frases de efeitos enfeitando as fotos com textos meigos como: "meu eterno amor", "para sempre sua" ou "por onde for quero ser seu par".

Não deixei de acreditar no amor, juro por todos os santos. Não fiquei, de um dia para o outro, um ser insensível, longe de mim tal possibilidade. Logo eu a majestade da sensibilidade. Nem abandonei, num passe de mágica a minha crença na beleza dos sentimentos verdadeiros e sinceros. Capaz. Logo eu, que sempre apostei na formosura das emoções e na magnitude dos amores. E nem fiquei anestesiada e imune aos gestos mais românticos, poéticos e sonhadores. Volta para o mar, oferenda. Logo eu, a rainha das fantasias e das utopias. Apenas entendo, e isto pode ser já um aprendizado de 50 e muitos anos de experiência, que não existe um único dia determinado, marcado e assinalado para amar.

Se o ano tem 365 dias e noites, qual a necessidade de concentrar tanto amor, paixão, carinhos e presentes em uma única ocasião. Exceto a questão comercial, não vejo mais nenhuma. Vamos conjugar o verbo amar todos os dias. Eu amo, por exemplo, a paz das minhas tardes de segundas-feiras. Eu amo chegar em casa e ser recebida como a pessoa mais importante do mundo pelo cão #QuincasFernandoMartins. Eu amo os telefonemas do meu irmão e da minha cunhada em noites intercaladas para saber como eu estou. Eu amo as possibilidades de passeios, cinemas, caminhadas, encontros e até desencontros que os sábados e os domingos me oferecem.

Porque é preciso deixar para canalizar o amor que sentimos, recebemos ou expressamos em um único dia/noite no ano? Como escrevi acima, só a razão comercial ou a incapacidade ou mesquinharia do ser em mostrar publicamente os seus sentimentos em dias comuns. Mas, daí, é um problema de cada indivíduo e exige um tratamento psicológico bem mais profundo, do qual irei me abster. Eu amo, por exemplo, e faço questão de anunciar, a minha filha de 24 anos com todas as falhas e acertos que ela possa ter. Eu amo, cada dia mais, a Gabriela, e adoro quando ela separa umas horas do seu dia atribulado para dedicar alguns minutos para a sua mãe. Eu amo, e ela sabe disso (todos os dias, não é preciso uma data especial) quando ela escolhe umas noites da semana para deixar a casa da namorada e passar um tempo comigo.

Aliás, juro pelo sangue de Jesus que tem poder, por São Francisco e até Santo Antônio, que sou amor. Não se assustem, leitores e leitoras se eu lhes disser que a vida é boa, principalmente para quem ama todos os dias. E sim, eu sou amor, da cabeça aos pés, todos os dias e noites. E seguirei beijando os rostos, as mãos, abraçando, envolvendo e acarinhando os meus amores e amoras.  Nos 356 dias do ano.

Como Marcinha também procura ser um pouco de conhecimento, informo-lhes que em outros países, as paixões dos namorados e namoradas é comemorada em 14 de fevereiro, o Valentine's Day (Dia de São Valentim). No Brasil, a versão popular é que o Dia dos Namorados é comemorado no dia 12 de junho, por ser a véspera do Dia de Santo Antônio, conhecido como o "casamenteiro".  A data teria sido criada pelo publicitário João Dória, que iniciou, na carona da fama do casamenteiro Antônio, em 1949, uma campanha com o slogan "não é só com beijos que se prova o amor".

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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