O endividamento dos gaúchos

Dentre tantos temas importantes envolvendo a sociedade e a opinião pública, estreio na Coletiva.net abordando a percepção dos gaúchos sobre a economia. Como socióloga e cientista …

Dentre tantos temas importantes envolvendo a sociedade e a opinião pública, estreio na Coletiva.net abordando a percepção dos gaúchos sobre a economia.
Como socióloga e cientista política, que está a frente de um Instituto de Pesquisas, tenho como premissa demonstrar, analisar, relatar ou simplesmente descrever comportamentos, percepções, desejos ou temores da opinião pública.
Em uma pesquisa realizada pelo IPO, neste primeiro semestre de 2015, verificou-se o nível de endividamento dos gaúchos:
  a) 34,7% dos gaúchos estão mais endividados do que o normal (e o normal é classificado por auto-declaração do entrevistado, com base no histórico de suas finanças pessoais);
  b) 39,5% dos gaúchos estão com o mesmo número de dívidas;
  c) 25,8% dos gaúchos estão menos endividados do que o normal.
O endividamento está mais presente entre as mulheres e entre as pessoas com menor escolaridade e renda, ou seja, os mais impactados com dívidas estão na faixa de 1 a 5 salários mínimos familiar, incluindo parte da nova classe C que está tendo seu poder de compra retraído, modificando as tendências de consumo dos últimos anos.
O perfil predominante entre os que estão com menos dívidas é: homens, pessoas no início da carreira profissional (25 a 34 anos) e pessoas mais velhas (acima de 60 anos), e também, entre os gaúchos com ensino superior.
O endividamento da população de baixa renda está associado à utilização de cartão de crédito, financiamentos de bens de consumo duráveis ou imóveis ou até mesmo a tomada de empréstimos em financeiras.
Como o consumidor de baixa renda e da nova classe C "está gastando mais do que ganha" e não tem perspectiva de novos programas sociais ou investimentos do governo na economia a primeira tarefa das finanças domésticas será o pagamento das dividas, reduzindo o poder de compra, diminuindo a capacidade de depósitos na poupança e aumentando as retiradas.
Recente matéria do jornal Valor Economico, embasada em dados do Banco Central (BC), corrobora a percepção pessimista dos gaúchos sobre a economia, e também o comportamento de maior endividamento. No mês de abril de 2015 a diferença entre saques e depósitos nas contas de poupança (chamada de captação líquida) foi a mais negativa dos últimos vinte anos (período de acompanhamento deste dado pelo BC). Alguns dos fatores envolvidos neste fenômeno são:
a) o menor crescimento da renda do trabalhador;
b) uma inflação alta e a alta dos preços que ajudam a explicar o maior volume de saques do que de depósitos na poupança.
A população está sacando mais suas economias, investindo menos e 1/3 está mais endividado do que o normal.
O IPO ouviu 1.501 gaúchos distribuídos em todas as sete mesorregiões do IBGE entre os dias 7 e 13 de abril de 2015. Relatório da pesquisa poderá ser acessado no link Banco de dados do site do IPO  http://www.ipo.inf.br/index.php/banco_dados.html.  

Autor
Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO - Instituto Pesquisas de Opinião em 1996 e tem a ciência como vocação e formação. Socióloga (MTB 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e tem especialização em Ciência Política pela mesma instituição. Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Elis é conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) e Conselheira de Desburocratização e Empreendedorismo no Governo do Rio Grande do Sul. Coordenou a execução da pesquisa EPICOVID-19 no Estado. Tem coluna publicada semanalmente em vários portais de notícias e jornais do RS. E-mail para contato: [email protected]

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