O futuro, os jovens

Quem começou tudo foi o movimento punk. Jovens desempregados, sem perspectiva de futuro, se comportavam de maneira desleixada, chocante, ora entediados, ora revoltados. Não …

Quem começou tudo foi o movimento punk. Jovens desempregados, sem perspectiva de futuro, se comportavam de maneira desleixada, chocante, ora entediados, ora revoltados. Não viam perspectiva de futuro. O futuro não existia, ou melhor, existia e era péssimo.
Esta onda chegou ao Brasil na década de 80, com bandas como o Legião Urbana. As letras de Renato Russo têm poesia e beleza, mas têm também muito de desencanto e tristeza. A começar pela própria voz dele, que fazia questão de torná-la ainda mais profunda. A letra de "O Teatro dos Vampiros" não pode ser mais triste:
"(?)

Os asssassinos estão livres

Nós não estamos

Vamos sair

Nós não temos mais dinheiro

Os meus amigos todos estão

Procurando emprego

Voltamos a viver

Como há dez anos atrás

(?)"
A tristeza pode estar (e em muitos casos está) associada à falta de perspectiva de futuro, como no caso dos punks e de muitas das bandas surgidas no Brasil, na década de 80.
Agora, a mais recente edição do Dossiê MTV mostra que, passadas décadas, o desencanto com o futuro continua. Conforme matéria do Observatório de Imprensa, de Flávia Guerra:
" Mario Sergio Cortella, filósofo e professor da PUC-SP, convidado para comentar e refletir sobre os resultados, observou: "Nossos jovens têm dificuldade de lidar com o futuro. Levam a ética perigosa do hedonismo e do individualismo às últimas conseqüências. Têm grande dificuldade de lidar com a construção coletiva da vida." "Estão esticando cada vez mais a adolescência, aprisionados em um futuro que não existe. Isto é de nossa responsabilidade, nós, da geração dita mais velha", prosseguiu. "Este estudo revela que os jovens estão vivendo cada vez mais velozmente, como se não houvesse um futuro possível, até o esgotamento, num ritmo frenético. São incapazes de manter a atenção por mais de seis minutos porque cresceram assistindo a programas infantis na TV cujos blocos duravam este tempo."
*Para ler a matéria completa do Observatório de Imprensa
, clique aqui
Ok. Só que acho que há um certo exagero nesta coisa do jovem ser irresponsável, não ser engajado, só viver como se não houvesse amanhã. Tudo bem, os jovens ficaram mais assim mesmo. Vivem frenéticos, a mil. Mas este não é um traço exclusivo desta geração de jovens. É uma tendência do período da adolescência: experimentar, viver, ousar. Isto vem sendo assim há muitos anos, mesmo quando não havia celular, nem Internet, nem TV a cabo e muito menos MTV. James Dean fez isto. Há muitos e muitos anos.

E quando vejo, como tenho visto, os jovens envolvidos em causas, como no caso da Fundação Thiago Gonzaga, do projeto Vida Urgente, sou obrigado a dizer que não concordo. O que vejo lá é uma gurizada a mil, mas para o bem. Para convencer seus contemporâneos de que não vale a pena arriscar a vida, que ela é boa demais e merece ser vivida. Saem nas madrugadas para abordar outros jovens em points, para dizer-lhes que se forem beber, não dirijam. E assim como os que saem, há mais de 2.500 outros jovens voluntários cadastrados, esperando sua vez de participar. Menos, bem menos, para não criarmos um estereótipo. Devagar na análise.
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