O gaúcho confia desconfiando!

Para analisar a confiança dos gaúchos nas Instituições é necessário "ter em mente" a conjugação de fatores históricos-estruturais que se estabeleceram na história do …

Para analisar a confiança dos gaúchos nas Instituições é necessário "ter em mente" a conjugação de fatores históricos-estruturais que se estabeleceram na história do RS, as atuais denúncias de corrupção e malversação de recursos públicos da política brasileira, acrescido a este cenário das condições econômicas incertas e instáveis que afetam diretamente a população e que eclode no agravo do distanciamento e ceticismo da maioria da população em relação à política e aos políticos.
É neste ambiente que "brota" o maior percentual de desconfiança dos gaúchos, medido pelo IPO - Instituto Pesquisas de Opinião, ao longo das últimas duas décadas.
Neste momento mais 55% dos gaúchos não confiam "em nada e em ninguém" e a outra metade "dá um voto temeroso de confiança". A frase que permeia o senso comum da população e ecoa de porta em porta na consolidação da premissa que "se confia desconfiando". A pesquisa de opinião realizada com uma amostra de 1.500 entrevistados, distribuídos nas sete mesorregiões do IBGE, indica que o menor grau de confiança se encontra nos políticos, nos "representantes do povo".
- Meios de comunicação = 45,4%
- Polícia/Brigada Militar = 44,7%
- Governo do Estado do RS = 31,7%
- Justiça = 28,6%
- Assembleia Legislativa do RS = 14,5%
- Partidos políticos = 5,5%
O modo pelo qual os eleitores vislumbram, concebem a política e confiam nas instituições, influencia e direciona as ações dos mesmos, como um círculo vicioso. A racionalidade da maior parte do eleitorado é relativa a posição na estrutura social em que estes estão inseridos, com base nas informações e percepções da realidade política que os circunda. E os dados indicam que há uma crise de legitimidade, que faz com que a parca confiança nas instituições atue como um limitador da unicidade e do desenvolvimento social, gerando uma crise social que engessa a frágil capacidade de participação política, a mobilização e inviabiliza o exercício da cidadania.
E este comportamento permeia o cotidiano da população nas mais variadas formas de relacionamento social. A desconfiança nas Instituições ativa o modo de navegação social do "jeitinho brasileiro", potencializa o sentimento de injustiça, nutre a sensação de impunidade e, por consequência, estimula o "caos social" fazendo com que a população "sofra mais e mais". A população afirma que "como está não dá para ficar" e relata os dilemas com a prestação de serviços desqualificados, a perda ou falta de acesso aos direitos básicos, os delitos a que é exposta, as usurpações de agentes públicos e até mesmo como tem ficado a mercê da violência cotidiana, que tem seus indicadores em flanco crescimento.
Para o enfrentamento da crise social que se avizinha o "tema de casa" está no reposicionamento das Instituições (em especial dos três poderes), visando a premissa inicial do sistema democrático: a proteção e bem-estar da sociedade, o "bem comum".

Autor
Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO - Instituto Pesquisas de Opinião em 1996 e tem a ciência como vocação e formação. Socióloga (MTB 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e tem especialização em Ciência Política pela mesma instituição. Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Elis é conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) e Conselheira de Desburocratização e Empreendedorismo no Governo do Rio Grande do Sul. Coordenou a execução da pesquisa EPICOVID-19 no Estado. Tem coluna publicada semanalmente em vários portais de notícias e jornais do RS. E-mail para contato: [email protected]

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