O melhor presente de toda a minha vida

Há 19 anos, num início de noite calorento de um verão de 6 de dezembro, colocaram em minhas mãos, ainda trêmulas pelo acontecimento, um …

Há 19 anos, num início de noite calorento de um verão de 6 de dezembro, colocaram em minhas mãos, ainda trêmulas pelo acontecimento, um presente de 51 centímetros e pesando 3.760 quilos que simplesmente modificou tudo que eu poderia, até então pensar na minha mais ingênua definição de felicidade. Aquele pequeno ser, repleto de fartos cabelos lisos pretos e olhos cristalinos de um azul cativante, depositado, naquela terça-feira, às 19h29 minutos sob o meu colo para contemplação, mudaria para sempre e definitivamente, a minha visão de encarar a vida. Aquele bebê alteraria, por todo o infinito, o meu compromisso com a vida e transformaria, pelo resto dos meus dias, o meu projeto de vida.
Desde que Gabriela entrou na minha vida, naquela noite no Hospital Mãe de Deus, ou nove meses antes, na sua concepção, percebi que tudo que eu falara de amor, até então, não tinha o menor significado. O amor divide-se na minha vida em dois períodos, duas eras distintas, duas fases marcantes. O amor AG (Antes de Gabriela) e o amor DG (Depois de Gabriela). Alguns sentimentos e emoções, principalmente o amor, têm o poder de mudar completamente de dimensão após a maternidade. Quando uma mulher é abençoada com o milagre de reproduzir vidas, ela recebe também a incumbência de multiplicar amor. E de sentir o amor na sua forma mais plena e eterna.
Para uma mãe, não existe tempo ruim, o sol de rachar não é desculpa, uma noite mal dormida é apenas parte da rotina da maternidade e nem mesmo uma terrível enxaqueca é capaz de adiar compromissos maternos. Uma mãe está sempre disposta a ouvir, a aconselhar, a ceder, a intervir, a defender. Uma mãe jamais vai dizer que não pode fazer, que está cansada, que vai resolver depois, que tem preguiça de ir para a cozinha e preparar pratos mirabolantes (mesmo eu que sempre fiquei em segunda época nas disciplinas culinárias piloto fogão quando necessário pelo bem de minha filha). Uma mãe sabe de cor e salteado que a prioridade do filho é sempre prioridade de vida.
Mas não quero escrever hoje aqui sobre esta abnegação materna e o ato de padecer no paraíso, cumprido à risca por toda a mãe que se preze. Nem mesmo relatar a felicidade de uma mãe ao perceber que gerou um ser saudável, com saúde, inteligente e cheio de uma energia contagiante. Nem vou usar o meu espaço para falar sobre a aceleração do coração ao saber que este ser gerado tem bom desempenho nos estudos, não se envolve em perigos do século XXI e consegue ter um senso mínimo (no caso da Gabriela é o máximo) de justiça e direitos sociais.
Hoje, quero apenas agradecer. Porque sou a pessoa mais feliz do mundo (eu adoro superlativos) já que fui escolhida para ser a mãe de Gabriela, que completa seus 19 anos na próxima sexta-feira, 6 de dezembro. Porque sou a mãe mais abençoada do mundo (mais uma vez superlativo) graças ao convívio diário com uma pessoa vivaz, inteligente e cheia de assuntos como a Gabriela. Porque sou o colo que Gabriela ainda procura nas vezes em que alguma coisa foge ao seu controle e seus planos não se concretizam. Porque sou ainda o abraço que afaga Gabriela quando ela descansa a cabeça nos domingos à noite e sossega os seus pensamentos depois da agitação do final de semana.
Obrigada Gabriela. Por me fazer ser mãe. Por me ensinar a amar. Por me mostrar a tolerância. Por me fazer exercitar a paciência. Por dividir comigo as experiências boas e as más. Por me orientar nas novas tecnologias. Por solicitar ajuda em temas ultrapassados. Por rir dos meus ditados trocados (vou matar dois coelhos com uma caixa d'água só). Por me despertar no meio da noite e pedir um remédio para cólicas. Por ser parceira nos programas televisivos mais bregas deste planeta. Por aguentar as minhas sessões musicais desafinadas. Por ter o mesmo amor pelos animais que eu. Por aceitar meus gritos de gol quando o Grêmio me concede este prazer. Obrigada Gabriela por existir.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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