O país da suruba

"Se acabar o foro, é para todo mundo. Suruba é suruba. Aí é todo mundo na suruba, não uma suruba selecionada."

Romero Jucá, senador do PMDB.

Diante da avalanche de besteiras que ameaça soterrar o Bananão, duas e três aparece alguém com saudade do Sérgio Porto e seu famoso FEBEAPÁ, o Festival de Besteira que Assola o País. Sim, claro, Sérgio Porto faz falta. Como faz.

Seria bom pra saúde do Bananão pelo menos uns 30 como Sérgio Porto, um atirador de elite da ironia, entrincheirados em pontos estratégicos da grande imprensa. O problema é que, fora um Luis Fernando Verissimo, um Gregório Duvivier e mais um ou dois, a grande imprensa não tolera os gozadores inteligentes. A grande imprensa, que nunca foi santa, rasgou de vez a fantasia - além da rotina de distorções e de defesa do indefensável em editoriais e artigos que disfarçam a canalhice com um tom grave e gongórico, aposta abertamente na burrice e no absurdo. Isso quando não dá espaço à simples histeria e paranoia.

O que sobra então? Comer o mingau pelas beiradas, como recomendava Dona Benta e hoje recomenda a Rita Lobo. É o que o Ayrton Centeno vem fazendo, em blogs e portais ditos sujos. É o que fez com o livro O país da suruba (editora Libretos. Ilustrações de Edgar Vasques) e fará, dia 11, às 14h30min, na Feria do Livro, no bate-papo com Edgar Vasques e Elmar Bones na Sala Leste do Santender Cultural.

Meio que baixou o santo do Sérgio Porto no terreiro do Centeno: ele selecionou 155 historinhas de nossos políticos e celebridades, ou, como diz, 'provas, e não convicções', de que o Bananão se ridicularizou e emburreceu aceleradamente nos últimos tempos. Digo meio que baixou porque Sérgio Porto privilegiava as besteiras, mas Centeno levou a coisa adiante, acrescentando a canalhice pura e simples jogada nas nossas fuças. Não é o mesmo que confete. Confete não tira sangue.

Abaixo, quatro historinhas exemplares, mas catadas ao acaso. Quer dizer, entre as 155 há muitas outras muito mais exemplares. Confiram.

Uma chacina por semana

Enquanto o mundo se estarrecia com a degola de presos no Brasil, o secretário nacional de Juventude, Bruno Júlio, batia palmas. E achava pouco. "Tinha que ter uma chacina por semana", cobrou. Tio de Cid, o Cínico, seu mentor e pior do que o próprio, Pessoa, o Desumano, sugeriu televisionar a matança. "Assim, os lares brasileiros restabeleceriam o antigo congraçamento familiar diante da TV com um programa de alto teor educativo para robustecer nossos valores cristãos tão ameaçados", vislumbrou. Mas perdeu-se a ocasião. Ou o timing, como diriam na PF. Como ficou chato para a imagem já carcomida do governicho temerário, ejetaram a cadeira de Bruno Júlio rumo à estratosfera. Antes, teve tempo de declarar ser 'meio coxinha sobre isso', ou seja, a chacina. Foi um retoque importante na definição de 'coxinha'.

Tudo pela ética

Mal Bruno Júlio fora mandado dizer bobagem por conta própria, chegou seu substituto, o advogado Assis Filho que, pelo jeito, não fará feio no posto. É acusado pelo jornalista Palmério Dória, autor do livro Honoráveis bandidos, de comandar quebra-quebra no lançamento da obra que mira nas façanhas do clã Sarney. Foram dois empastelamentos. O de São Luiz ficou conhecido como a 'Noite das Cadeiradas'. Além disso, Assis Filho responde a processo por enriquecimento ilícito e improbidade administrativa. Teve os bens bloqueados para garantir ressarcimento de desvios em suposto esquema de funcionários fantasmas, coisa perto de três milhões de reais. Mas foi apadrinhado pelo senador João Alberto, do PMDB, também cria da família Sarney e que vem a ser - tcham, tcham, tcham! - presidente do Conselho de Ética do Senado...

Nenê Irmão do João da Caixa

Se a deputada Celina apelou para a maior caradura, o prefeito Antônio Carlos da Silva - que atende pelo apelido de Nenê Irmão do João da Caixa - não deixou por menos. Em Cássia dos Coqueiros, interior paulista, o prefeito, eleito pelo PSDB, abriu concurso público para procurador do município. Até aí tudo bem. Acontece que nosso Nenê é republicano mas não é de ferro: inscreveu-se no exame e levou a vaga. Ficou em terceiro lugar mas como o primeiro e o segundo desistiram do cargo, acabou convocado. Ou seja, a prefeitura chamou o prefeito. Nomeado, licenciou-se em seguida para continuar chefiando o executivo cassiacoqueirense. "Não tem nada demais", explicou. Ufa, ainda bem...

O baluarte do DEM

Outro pilar ético de Pindorama, o líder do DEM na Câmara que, além da beleza da retórica, carrega o belo nome de Pauderney, processou Lula por 'incitação ao crime', Tudo porque o cabeça chata de Garanhuns dissera que, quem quisesse derrotá-lo, teria que fazê-lo nas ruas. Onde está o crime? Não sei. Perguntem ao deputado, ora! O velho e bom Pauderney Avelino também é o baluarte do DEM no combate à corrupção. Nos anos 1990, durante o episódio da compra da reeleição de FHC, Pauderney foi apontado como elo entre os vendilhões e o presidente da Câmara, Luiz Eduardo Magalhães. Este, por sua vez, despachava a criatura para Sérgio Motta, o grande operador do processo e sócio de FHC. O que aconteceu? Nada. Nada além da gaveta. Nem poderia. Era apenas a mão invisível do mercado comprando e vendendo almas.

Autor
Ernani Ssó se define como ?o escritor que veio do frio?: nasceu em Bom Jesus, em 1953. Era agosto, nevava. Passou a infância ouvindo histórias e, aos 11 anos, leu seu primeiro livro sozinho:Robinson Crusoé. Em 1973, por querer ser escritor, entrou para a Faculdade de Jornalismo, que deixou um ano depois.  Em sua estréia, escreveu para O Quadrão (1974) e QI 14,(1975), publicações de humor. Foi várias vezes premiado. Desenvolve projetos literários para adultos e crianças.

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