O planeta proibido

Filme de 1956, dirigido por Fred McLeod Wilcox, considerado um clássico da ficção científica. Gostei especialmente da chegada da nave ao planeta Altair IV. …

Filme de 1956, dirigido por Fred McLeod Wilcox, considerado um clássico da ficção científica. Gostei especialmente da chegada da nave ao planeta Altair IV. Alguém pega um bloquinho, arranca uma folha e anota com uma esferográfica os dados necessários para pousar. Quase melhor que a nave com pedal do Flash Gordon. Também era sensacional o celular do capitão, um microfone desses de rádios antigas com a aparência do pirulito da Chiquinha, do seriado mexicano "Chaves".

Altair IV é um planeta do tipo Terra, claro, onde os astronautas podem descer sem proteção nenhuma, quando aqui se exige certas vacinas pra ir de um Estado a outro no mesmo país. O cozinheiro inclusive desce com um avental na cintura e um gorrinho branco na cabeça, dizendo que vai procurar nabos selvagens. Parecem gozações do Matt Groening em "Futurama".

Um gênero que se dedica a imaginar futuros distantes cria produtos que não aguentam meia dúzia de décadas, ou apenas alguns anos, às vezes nem isso. Não é à toa que nas histórias os alienígenas são sempre muito mais inteligentes que nós.

Nave

Bolei uma supernave espacial. A proa dela imita aqueles carrinhos de andar nos trilhos do trem, sabe como é, com um guidom que você sobe e desce pra impulsioná-lo. Nesse caso são necessários dois homens: um no guidom e outro pra chicoteá-lo toda vez que diminui o ritmo.

O coração das trevas

Li há quase trinta anos e foi o horror, o horror. O livro me pareceu pomposo e ilegível. Mas há alguns meses, tentei de novo. O livro me pareceu a obra-prima que todos dizem que é.

Então? Então a culpa é menos minha que da tradução do Marcos Santarrita. O texto é rápido, fluente, com uma linguagem mais próxima de nosso tempo. Isso é bom. Mas as cenas se tornam estranhamente imprecisas com Santarrita. No primeiro parágrafo, por exemplo, ele não diz que o barco está ancorado. Descobri isso na tradução de Regina Régis Junqueira. Nela o texto é menos fluente, digamos até mais burocrático e com uma preferência marcante por termos mais antigos, mas as cenas são claras: sabemos direitinho quem, como, onde e por quê. Mas a Regina me ganhou definitivamente com uma palavra. Na tradução de Santarrita se lê que certo fulano tinha um "elo" com o mar. Na de Regina, ele tinha um "vínculo" com o mar.

Certo, Conrad às vezes é meio pomposo mesmo. Mas o resto compensa. Como compensa. Conrad, como Stevenson, é dos poucos autores de aventura para adultos. A África que aparece em "O coração das trevas" é alucinante, mas, talvez por isso mesmo, sentimos que é verdadeira a cada linha, sentimos que os personagens estiveram lá, sofreram o calor, o medo, a incompreensão e o fascínio, a maravilha. Mais: esses personagens são homens, não heróis e vilões que povoam tantas Áfricas de fantasia, tipo as minas do rei Salomão.

Num mundo em que domina o entretenimento infantilizado, Conrad tem poucas chances. É uma pena. Mais uma. São tantas que a gente nem tem mais cara de se lamentar.

Law & Order

A série vai ser cancelada, depois de 21 temporadas. "Law & Order", "Os Simpsons" e "The Closer" são a prova de que pode haver vida inteligente na tevê. Mais: são a prova de que pode haver vida inteligente no público da tevê.

Paris

Não, não, chega. Nem mais uma linha, até que o Coletiva.net me mande por seis meses pra lá pra fazer um curso avançado de flânerie.

Autor
Ernani Ssó se define como ?o escritor que veio do frio?: nasceu em Bom Jesus, em 1953. Era agosto, nevava. Passou a infância ouvindo histórias e, aos 11 anos, leu seu primeiro livro sozinho:Robinson Crusoé. Em 1973, por querer ser escritor, entrou para a Faculdade de Jornalismo, que deixou um ano depois.  Em sua estréia, escreveu para O Quadrão (1974) e QI 14,(1975), publicações de humor. Foi várias vezes premiado. Desenvolve projetos literários para adultos e crianças.

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