O tal do ócio

Por Cris De Luca

 

Ócio

substantivo masculino

  1. cessação do trabalho; folga, repouso, quietação, vagar.
  2. espaço de tempo em que se descansa.

Essa é a definição mais comum que a gente conhece sobre o ócio. Aquele momento de colocar as pernas para cima e fazer nada, como fomos ensinados desde pequenos. Mas, desde os anos 2000, quando o sociólogo Domenico De Masi lançou sua obra "Ócio Criativo", alguns de nós paramos para olhar esse momento de "folga" com outros olhos. A proposta do italiano é unir trabalho, tempo livre e estudo para alcançar o tal ócio criativo, ou seja, aproveitar esses momentos para criar, aprender e afins.

Esse final de semana, reunimos os Gengibrinos (como a gente chama quem faz parte do Gengibre.cc) para uma consultoria criativa com o Andrey Dutra e uma das coisas que, logo de começo, a gente conversou para se entender foi: o que você faz no final de semana quando ninguém está vendo? E a gente percebeu que isso pode dizer muito sobre o caminho a seguir, seja no conteúdo de um cliente, no da própria marca, no que tu queres fazer da tua carreira, da tua vida, dos teus relacionamentos e só vai.

E aí lembrei de um seminário que apresentei na faculdade de Relações Públicas, que falava sobre o ócio e como ele era estudado em outros lugares, inclusive com curso de pós-graduação em Portugal (e me deu até vontade de ir fazer). Os materiais que eu li apresentavam o ócio como uma experiência focada no indivíduo e não na atividade em si, podendo estar presente inclusive no trabalho, porque a qualquer momento a gente pode estar se divertindo e aprendendo. Para Cuenca (2000), "uma experiência de ócio plena deveria proporcionar a auto-escuta, a escuta do outro e/ou da natureza e a expressão autêntico de si mesmo, do self pessoal", ou seja, auto-conhecimento, se entender, se conhecer.

De acordo com a psicologia, o ócio possui 11 atributos: percepção de liberdade, motivação ou significado intrínseco, desfrute ou estados afetivos positivos, desenvolvimento humano, sociabilidade ou encontro interpessoal, descanso ou relaxamento, ruptura ou evasão, desafio, implicação psicológica, auto-expressão e estados introspectivos: o encontro consigo, com a natureza ou com a beleza. Deveríamos encontrar todos esses tópicos quando alguém diz "fiquei no ócio total hoje", mas a gente sabe que não é tão fácil assim mudar a chave e entender que qualquer momento, mesmo cheio de coisas para fazer, pode ser um instante de ócio.

Foi assim que eu entendi que mesmo quando quero descansar, o que me mais que deixa leve, me alivia stress e afins, é fazer/praticar atividades que me deem algum retorno de conhecimento e prazer. Acho que por isso que eu encho a agenda de cursos e congressos aos finais de semana, que ir para uma festa dançar, conhecer gente nova, novos sons, me ajuda a relaxar muito mais do que ficar em casa deitada assistindo Netflix, que a série ou filme que eu vou assistir tem que trazer algo a mais, mesmo que sejam reflexões simples (já #ficadica: assistam Merlí) e por aí vai. Outra coisa que a gente conversou foi que algumas vezes a gente acha que está procrastinando navegando nas redes sociais, mas na verdade está fazendo muito mais coisas do que se estivesse focado na frente do computador, afinal, trabalhamos com isso e buscar referências e olhar o que os outros estão fazendo também faz parte do nosso dia a dia.

Acho que o caminho para podermos enxergar o ócio de outra forma é a gente desapegar de algumas culpas que culturalmente nos foram colocadas. Um exemplo: quando tu estás com muito tempo livre, as pessoas ficam te perguntando e te cobrando se tu não estás fazendo nada; já se tu estás com a agenda cheia, os seres te perguntam se tu não vai parar, que tens que descansar, que não tens mais tempo para nada. Lembrem que nesse País ociosidade e "vadiagem" já foram crimes. Como desconstruir tudo isso? Acho que só terapia em grupo resolve e olhe lá. Se alguém tiver dicas, estou aceitando! <3

Autor
Jornalista, formada pela Universidade Federal de Santa Catarina, especialista em Marketing e mestre em Comunicação - e futura relações-públicas. Possui experiência em assessoria de imprensa, comunicação corporativa, produção de conteúdo e relacionamento. Apaixonada por Marketing de Influência, também integra a diretoria da ABRP RS/SC e é professora visitante na Unisinos e no Senac RS.

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