Olhando para dentro

O ser humano, mesmo aquele que não tem vocação para pesquisador ou cientista, tem uma curiosidade impressionante, um desejo incontrolável de desvendar os mistérios, …

O ser humano, mesmo aquele que não tem vocação para pesquisador ou cientista, tem uma curiosidade impressionante, um desejo incontrolável de desvendar os mistérios, conhecer o desconhecido, com o perdão da expressão.
O tipo de curiosidade varia de pessoa para pessoa, mas todas têm em comum o desejo de conhecer caixas pretas. Vejamos alguns exemplos. O Big Brother é um dos mais retumbantes exemplos, tendo em vista que é possível ficar olhando pelo buraco da fechadura. As pessoas até querem, sim, ver cenas de nudez e indiscretas, mas não considero esta a principal motivação. O que atrai as pessoas e as faz ficar bisbilhotando na vida alheia é o desejo de conhecer algo que, de outra forma, não se teria oportunidade. A vida íntima (se é que posso usar este termo, já que são milhões de telespectadores ligados) das pessoas.
Outro exemplo é o interesse das pessoas por ver aparelhos por dentro. Computadores transparentes, mouses idem, relógios que mostram seu funcionamento, celulares, automóveis, enfim, diversos são os itens. E é só curiosidade, pois a esmagadora maioria vê, mas não tem a menor idéia de como estes equipamentos funcionam.
Mais um exemplo é o funcionamento de nosso cérebro (que, aliás, ainda é um grande mistério). Freud teve sucesso também porque se lançou a esta árdua tarefa, que é desvendar o funcionamento de nossa mente. Claro que foi um gênio e seu êxito não se deveu somente à curiosidade do ser humano, muito pelo contrário. Mas ele satisfez ao desejo de muitas pessoas, de conhecer mais sobre nós mesmos. Ele teve que fazer uso de ilações e deduções, paralelos, pois a tarefa era (e é) extremamente complexa. Mas ao final, ele compôs um panorama compreensível e que explica (no meu entendimento, há controvérsias) grande parte do comportamento humano.
Revistas de fofoca e de chiques e famosos são outro exemplo. Um dos fatores de grande importância para o sucesso destas publicações é o da curiosidade das pessoas em saber como vivem os famosos. Bisbilhotar, mesmo. Claro, no caso de famosos há todo o glamour envolvido. Os leitores vivem, através de seus artistas e personalidades famosas, uma vida que, de outra forma, jamais teriam oportunidade de conhecer.
A internet também teve sua rapidíssima disseminação por este motivo. Basta entrar em um site de pesquisa para se ter acesso a praticamente tudo. Se digita a palavra, com o tema procurado e vêm documentos, imagens e, claro, muito lixo. Mas está tudo ali, ao alcance do mouse.
E por que estou dizendo tudo isto? Para mostrar o quanto faz falta às pessoas conhecer mais o desconhecido. Saber como funciona. Enxergar no escuro. Ter visão de raio-X, como o Super-Homem. Fazemos isto, de forma muito incipiente, na escola. Há os fundamentos de ciências, depois de física, química e biologia. Infelizmente, porém, o nosso sistema de ensino atual não aproveita a oportunidade na época, de potencializar este aprendizado, que é o de compreender que alguns funcionamentos são comuns a tudo o que ocorre na vida. Equações matemáticas para explicar as ondas do mar, fractais, quem lembra disto? Falo de um saber universalizado, no sentido de ampliar nossa compreensão acerca de tudo o que ocorre no mundo. Isto nos traria uma sensação maior de inserção neste mundo, de entendimento. A ignorância é um alienante poderoso. E todo alienante leva à letargia, ao desânimo. Sabemos tanto, e tão pouco ao mesmo tempo.
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