Papai Noel: Quero uma nova operadora

Depois que sobrevivo a melancolia gerada pelos primeiros movimentos do Natal, relatada na coluna “De laços e afetos” (www.coletiva.net/site/coluna_detalhe.php?idColuna=3095), chega o momento do meu

Depois que sobrevivo a melancolia gerada pelos primeiros movimentos do Natal, relatada na coluna "De laços e afetos" ( www.coletiva.net/site/coluna_detalhe.php?idColuna=3095), chega o momento do meu encontro com o Papai Noel. Deletem de suas cabeças qualquer pensamento maldoso e não imaginem que o tal Papai Noel é um lindo espécime do sexo masculino dotado de boa aparência para eu chamar de meu. Onde é que está escondida a ternura de vocês? Ou será que isso não passa de um desejo não revelado meu? Nada disso. Quando falo em conversa com o Papai Noel, refiro-me àquela figura da infância de todos nós, seja ela real ou utópica.
Como a minha filha Gabriela está crescida e jura que não acredita mais em Papai Noel, é impossível escrever na sua cartinha ao ilustre morador do Polo Norte os meus pedidos natalinos de contrabando. Aliás, rezo para que o "Santo Protetor das mães que mentem por uma causa nobre" afaste Gabriela da leitura desta coluna. Porque ainda hoje nego com toda veemência que meu irmão, tio Nando, vestisse a roupa do Papai Noel para visitá-la nas noites do Natal de sua infância. Ela sempre estranhou que o Papai Noel usava os mesmos sapatos que o tio Nando e que este não aparecia nas fotos.
E se o momento é de pedir auxílio aos santos que nos acompanham, já solicito a intervenção urgente do "Santo Protetor do repórter que escreve matérias de Natal", mesmo quando ele não está no exercício da profissão, caso desta que vos escreve. Porque terei que substituir o termo Papai Noel a fim de evitar a repetição e só lembro os mais comuns como "o senhor de barbas brancas", "o bom velhinho". E porque não esqueço a chefe da reportagem do turno da manhã do Correio do Povo implorando que a gente não usasse estas substituições.
Então, começo a escrever um e-mail para "o bom velhinho" (ai, perdão Rosane) que ele também já tem computador e prometeu manter limpa a caixa de entrada do correio eletrônico. Peço itens básicos e essenciais à sobrevivência de qualquer humano que se preze, como saúde, paz, equilíbrio, harmonia, quem sabe um dinheirinho extra e quiçá um amor maior de qualquer jeito, a qualquer hora, de corpo inteiro, um amor que eu desconheço. Tá bom. Vou pedir uns DVDs e CDs novos para não repetir sempre as mesmas músicas do J.Quest (parte acima) ou as do meu amante Chico Buarque.
Antes de prosseguir na redação da cartinha ao senhor de barbas brancas (desculpe, Rosane), preciso confirmar seu endereço eletrônico abrindo a página do Papai Noel na Internet, porque ele mudou letrinhas antes da @. Ah, vou ter que esperar um pouco. A Net, empresa que fornece serviço de banda larga e, no meu caso, também o telefone convencional, está com problemas na rede. Na janelinha do computador há quase um dia "acesso somente local". Através do celular que não é Net, fico sabendo que "já foi identificado que eu ligo de uma Região que enfrenta problemas" e "que no máximo em 24 horas tudo será resolvido".
Depois de reclamar para o sempre eficiente serviço de relacionamento com o cliente, sou acalmada com a informação de que vários usuários na Região são afetados com o "problema não identificado na rede". E mais: "não adianta ligar novamente porque não temos ainda previsão exata". Por favor, "a Net está fazendo tudo para resolver este problema". Mas a "Sra. pode antes fornecer seu número de cliente ou CPF para eu localizar o contrato" e "anote o número do protocolo".
Meu primeiro pedido para o Papai Noel será inusitado. Uma operadora de banda larga que não passe mais da metade do ano com problemas na rede. Uma operadora que não tenha um serviço de relacionamento tão burocrático. Uma operadora que identifique o problema na Região mais rapidamente. Será que estou pedindo muito? Será que não me comportei direitinho para ser atendida? Bem, vou agora usar emprestado o sinal do vizinho para enviar esta coluna, que ele é de outra operadora.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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