Parando para pensar

Quando grandes empresas começam a planejar retirada de conteúdo das redes sociais e ameaçam cortar publicidade destes espaços é bom parar para pensar. A Folha de S.Paulo anunciou no último dia 8 que não faria mais uso do Facebook e o diretor de Marketing da Unilever, Keith Weed, fez uma declaração no dia 12 que deixou o povo de cabelo em pé: iriam retirar a publicidade da rede de Mark Zuckerberg, do Google e do Youtube.

As duas organizações afirmaram que as decisões foram tomadas levando em conta o relacionamento de cada uma delas com as plataformas, por não concordar com algumas políticas e também em função da distribuição de conteúdo tóxico, segundo o executivo da Unilever, o que inclui fake news e materiais extremistas de preconceitos e afins. No ano passado, uma agência britânica já tinha tirado toda a publicidade de seus clientes das redes sociais até que as plataformas conseguissem entregar de forma mais eficiente os resultados e ter uma política que não mudasse com o sentido do vento.

Antes de criticar e dizer "que gente louca, como não vão mais estar nestes espaços nos quais estão seus consumidores" é importante pensar pelo lado das organizações e em como elas querem construir suas marcas, no que é mais significativo para cada uma delas. Sabemos que o Facebook, por exemplo, nasceu como uma rede social entre pessoas físicas e que aos poucos foi abrindo espaço para outros públicos. Se nenhum de nós paga para estar lá e o Zuckeberg ganha rios de dinheiro com sua empresa, adivinhem quem mantém todo esse auê. Foi a forma que ele encontrou de rentabilizar a empresa. Até porque sabemos que o Facebook não é filantropia. Então, cada marca que entra lá, sabe muito bem que tem que investir para alcançar o máximo de pessoas possível. Por isso que os algoritmos mudam o tempo todo e eles criam cada vez mais formas de uma organização estar lá dentro junto desse povo todo. Acho que não temos ninguém ingênuo neste quesito por aqui!

Mas vamos aos casos mais atuais de "revolta" com as redes sociais e o Google. Por exemplo, a Folha de S.Paulo e seus 5,9 milhões de seguidores no Facebook. Apesar de não concordar com a política de não remunerar publishers e notar a queda orgânica na entrega do FB, acho que o impresso se precipitou em sair da plataforma. Como dito antes, Mr. Zuckenberg não faz caridade e, por isso, quem quiser alcançar ainda mais seguidores e, consequentemente, mais curtidas, compartilhamentos e afins, tem que pagar. Muitas pessoas iam direto na fanpage do jornal para buscar as matérias e, dela, ir para o site. É bem provável que passem a consumir as informações de outro veículo que me ofereça essa praticidade a mais. Outro ponto que a Folha levanta é que o ambiente do Facebook fomenta a distribuição de fake news. Mas muda alguma coisa eles saindo da plataforma? Antes, tínhamos uma fonte mais confiável de informação entre tantas duvidosas. E agora? Entendo a posição da Folha enquanto empresa, mas será que ela foi pensada levando em conta seus leitores? Em parte, me parece que não.

A jornalista chefe de parceria em notícias do Facebook, Campbell Brown, disse numa palestra que a decisão da Folha não a surpreende e que o trabalho deles não é persuadir as empresas que não desejam continuar na plataforma. Ou seja, para eles, tanto faz como tanto fez, um dos maiores veículos de comunicação do País estar ali ou não. Quem perde nessa "briga"?

Vamos ao segundo auê! Será que o Facebook tem esta mesma posição frente à Unilever? Quer ficar fica, quer sair sai? Duvido muito, né? Segundo maior anunciante do mundo, a organização gastou cerca de US$ 9 bilhões em publicidade no ano passado, segundo dados do mercado. Imaginem qual foi a fatia deste valor que foi investida em Facebook e Google? E o que a Unilever quer dessas plataformas? Que se comprometam a combater as fake news, publicações de ódio e conteúdo tóxico dirigido a crianças. Se a empresa conseguir que este movimento seja mesmo feito pelas duas gigantes digitais, todo mundo tem a ganhar. Até mesmo a Folha de S.Paulo que poderá rever a sua retirada total do Facebook. Agora é aguardar e acompanhar de perto quem mais poderá entrar neste movimento. Será que mais algum anunciante global entraria no jogo com a Unilever? Oremos que sim! <3

Autor
Jornalista, formada pela Universidade Federal de Santa Catarina, especialista em Marketing e mestre em Comunicação - e futura relações-públicas. Possui experiência em assessoria de imprensa, comunicação corporativa, produção de conteúdo e relacionamento. Apaixonada por Marketing de Influência, também integra a diretoria da ABRP RS/SC e é professora visitante na Unisinos e no Senac RS.

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