Precisamos falar de Medellin (2 de 3)

No primeiro artigo dessa trilogia (http://bit.ly/2DFd9Ls) falamos genericamente da transformação de Medellin (Colômbia). Uma cidade perigosa e refém do narcotráfico que, em menos de 20 anos, renasceu e se transformou num dos centros de referência para a inovação e o desenvolvimento sustentável. Para mim, porto-alegrense assumido, um exemplo de recuperação e esperança. 

Pois bem, quero começar esse segundo artigo sobre o tema, com a pergunta que não quer calar: como pode? Como em menos de 20 anos? 

Preciso primeiro reconhecer, que talvez me falte maior imersão e repertório para fazer essa análise com profundidade e exatidão, mas a impressão, de quem estudou um pouco e visitou Medellin com olhos curiosos e surpresos é a seguinte: Medellin foi transformada pela economia criativa e pela visão local. 

Entre varias andanças em Medellin, visitei, o "Ruta N". Você, provavelmente, nunca ouviu falar do "Ruta N". Eu também nunca tinha ouvido falar. Pois bem, o "Ruta N" é o centro de inovações e negócios de Medellin, é o cérebro nervoso e criativo de todo o ecossistema de inovação da cidade. É do "Ruta N" e jamais de vários e fragmentados lugares, que saem as soluções criativas e inovadoras para a cidade e para as pessoas de Medellin. Alí, tem formação de talentos, acesso a capital, geração de infraestrutura e desenvolvimento de negócios inovadores. Conhecimento global para aplicação local e imediata, inclusiva e sustentável. 

Vou usar dois exemplos, que discuti recentemente com amigos interessados no tema, para comparar o que acontece em Medellin, fomentado por esse ecossistema e liderado pelo "Ruta N", com o que não acontece em Porto Alegre:

1. Pensem o seguinte: temos, em Porto alegre, numa ponta da avenida Ipiranga a PUC, um dos nossos centros de excelência em pesquisa. Na outra ponta da mesma avenida Ipiranga, próximo ao centro, a UFRGS, outro centro de excelência em pesquisa. Nessas duas instituições, se discute a sustentabilidade do mundo, mas não existe um projeto (pelo menos que eu saiba) para despoluir ou melhorar a convivência da cidade de Porto Alegre com o arroio Dilúvio. Arroio que une esses dois centros de excelência cortando a cidade ao meio com sua podridão. Pois bem, parece que esqueceram o Dilúvio, não se articulam entre sí, e querem salvar o mundo.

Tenho a convicção que em Medellin todos os esforços criativos e de inovação, incluindo pesquisa, pesquisa aplicada e negócios, focariam no Dilúvio e esqueceriam o mundo. Ou melhor, resolvendo o problema do arroio Dilúvio, melhorariam (pelo menos um pouquinho) o mundo. Simples, assim.

2. No segundo caso, vamos falar do Jardim Botânico. Em Medellin, o Jardim botânico, não um jardim Botânico qualquer. É um passeio espetacular numa floresta de inovação, um espaço para a reflexão. Os orquidários são estruturas futuristas em meio as árvores numa arquitetura multipremiada (muitos pontos para a indústria criativa). Os cafés e os restaurantes dentro do Jardim Botânico enchem de gente todos os dias e são maravilhosos. É ainda um museu vivo e centro de investigação científica. Tudo remete a inovação, criatividade local e sustentabilidade. Em Porto alegre, quando se fala em Jardim Botânico, tudo é uma enorme interrogação. Com o fechamento da fundação Zoo-botânica do RS ninguém sabe qual o seu futuro e ninguém parece querer saber.

Pois bem, o exemplo de Medellin me contagia e me provoca. Por isso, digo sem receio esqueça Barcelona, São Francisco, Austin, especialmente você amigo de Porto Alegre, quando falar de transformação pela economia criativa, pense em Medellin.

Pense em Medellin e faça em Porto Alegre. #ficaadica 

No próximo e último artigo dessa série, vamos abordar um pouco mais das soluções criativas e a vida em Medellin.

Autor
Engenheiro, fundador, ex-CEO e ex-presidente do Conselho de Administração da AG2, fundador e ex-presidente da Associação Brasileira de Agências Digitais (AbradiRS) em duas gestões. Presidente do Conselho de Administração da Seekr de Blumenau e também sócio e membro do Advisory Board das seguintes empresas: Alright, MPQuatro, Delta, Zeeng, DEx01 e Minovelt. Foi eleito pela plataforma Proxxima um dos 10 profissionais mais inovadores do mercado brasileiro, em 2011. É professor do curso de Comunicação Digital da Unisinos e mestrando em Design Estratégico. Já trabalhou com estratégia digital para as principais marcas do mercado brasileiro incluindo Bradesco, Toyota, GM, Natura, Rio2016, Vale, Embraer, C&A, entre outras.

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