Precisamos falar de Medellín (3 de 3):

Este é o último artigo da trilogia, 'Precisamos falar de Medellín'

No primeiro artigo, falamos genericamente da incrível transformação de Medellín (Colômbia). Medellín, até o início dos anos 2000, era uma cidade perigosa e refém do narcotráfico, dos paramilitares e da guerrilha. Em menos de 20 anos, a cidade renasceu e se transformou num dos centros de referência para a inovação e o desenvolvimento sustentável.

No artigo seguinte, vimos como Medellín foi transformada pela economia criativa e pela visão local com o seu ecossistema de inovação bem articulado e liderado pelo 'Ruta N', centro de inovações e negócios de Medellín.

Agora, para finalizar, quero propor uma reflexão mais prosaica, quero falar das coisas simples que observei. A primeira coisa que me chamou atenção nos hábitos de Medellín, é que as pessoas bebem água diretamente da torneira. Faz muitos anos que eu não sabia o que era isso. Quando eu era criança, lembro meu falecido pai dizendo: ainda vamos viver o tempo em que teremos de pagar até para tomar um copo de água. Profecia concretizada poucos anos depois em Porto Alegre. Beber água da torneira (sem qualquer filtro) é um ato inconteste de confiança no serviço básico de tratamento de água da cidade. Especialmente, numa cidade sul-americana de 2,5 milhões de habitantes é uma confiança surpreendente.

Outra coisa, come-se frutas, muitas frutas. Notadamente, manga e abacaxi, que podem ser compradas, sem medo, em qualquer barraca de rua. Logo, a obesidade, diferente do que intuiu Botero, não é um problema.

A arepa, massa de pão feito com milho moído ou com farinha de milho pré-cozido, é um caso a parte. Essa iguaria está na vida do povo de Medellin e da Colômbia em todas as refeições e entre elas. Come-se arepa de muitas formas e em qualquer lugar. Obviamente, que também na rua.

Por fim, preciso registrar que a salsa e o reggaton parecem contribuir significativamente para elevar ainda mais a auto estima desse povo alegre que pensa global e age localmente.

Verdade seja dita, os Paisas (nome dado a quem é de Medellín, "tipo" Portenho para quem nasce em Buenos Aires) estão de parabéns por realizarem toda essa transformação. Para qualquer ser humano que visita Medellín, suas soluções locais de mobilidade urbana, suas expressões de inovação social e criativa, seus hábitos, sua arte urbana e especialmente sua gente calorosa, é difícil acreditar que essa cidade foi um dia tão violenta e durante muito tempo riscada do mapa do turismo internacional. A Medellín eleita como uma das cidades mais perigosas do mundo, felizmente "se fue". Hoje Medellín é uma das mais inovadoras cidades do planeta e seguramente uma das melhores cidades para viver na América do Sul.

No momento em que temos em nossa Porto Alegre, vários movimentos surgindo que valorizam a inovação, a criatividade e a experiência local; como o "Porto Alegre Inquieta" ou a articulação dos polos tecnológicos (Tecnopuc, Tecnosinos e UFRGS), eu me encho de esperança e de vontade de pensar globalmente e transformar criativamente o local onde eu nasci. Por isso, espero que cada vez mais, a gente fale de Medellín, olhe para Medellín e se inspire nos Paisas!

Paisas, prometo que voltarei ai em breve!

Cesar Paz
12.04.18

 

Autor
Engenheiro, fundador, ex-CEO e ex-presidente do Conselho de Administração da AG2, fundador e ex-presidente da Associação Brasileira de Agências Digitais (AbradiRS) em duas gestões. Presidente do Conselho de Administração da Seekr de Blumenau e também sócio e membro do Advisory Board das seguintes empresas: Alright, MPQuatro, Delta, Zeeng, DEx01 e Minovelt. Foi eleito pela plataforma Proxxima um dos 10 profissionais mais inovadores do mercado brasileiro, em 2011. É professor do curso de Comunicação Digital da Unisinos e mestrando em Design Estratégico. Já trabalhou com estratégia digital para as principais marcas do mercado brasileiro incluindo Bradesco, Toyota, GM, Natura, Rio2016, Vale, Embraer, C&A, entre outras.

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