Racismo revisitado

Recente coluna de Luis Fernando Verissimo destaca o aumento significativo, na Europa, do racismo. Ou o renascimento vigoroso deste, no continente europeu. Ao final, …

Recente coluna de Luis Fernando Verissimo destaca o aumento significativo, na Europa, do racismo. Ou o renascimento vigoroso deste, no continente europeu. Ao final, Veríssimo observa: "A luta (ele se refere a manifestações contra o racismo) parece em vão num mundo que, quanto mais cosmopolita fica, mais se retribaliza".
Fiquei pensando. Alguns autores já destacavam que a globalização trazia um sentimento de perda de identidade e referenciais. Com isto, mais as pessoas se apegavam às coisas de sua terra, como forma de garantir que, embora eu possa estar em todos os lugares do mundo, sempre poderei voltar e encontrar a minha casa (seja ela a própria casa, a cidade, as manifestações culturais, etc), estável e segura. E isto sempre me pareceu bastante lógico, se andamos para lá e para cá. Em um dia estou em Nova York, no outro em Tóquio; num mesmo dia vejo imagens da Malásia, da África, do México, do Canadá; "viajo" ainda recebendo informações de todos os cantos do mundo, seja via Internet, TV, rádio, jornal, revista. Conhecemos pessoas e culturas diferentes daquela na qual nascemos e crescemos. É muito bom conhecer pessoas e coisas diferentes, desde que tenhamos a sensação segura de poder retornar aos nossos referenciais.
O que choca, agora, é este efeito colateral grotesco da globalização, a que Verissimo se refere: a retribalização racista. Na falta de referências, estas pessoas não estão se reportando aos seus, onde cresceram e nasceram. Encontraram um referencial de ódio e segreação. Mas talvez seja fácil entender. Como estas pessoas irão buscar seus referenciais se a sociedade em que nasceram e cresceram está desagregada, com valores deteriorados? Como buscar referenciais aonde eles não existem? Esta me parece ser a explicação mais evidente deste processo. A nova onda racista européia reflete o declínio da nossa sociedade, é o seu filho mais novo.
Bom, então não há solução? Nosso futuro é enfrentar hordas racistas e tribos primitivas, todas marcando suas reuniões via Internet? Não, não é bem assim. Ou melhor, não precisa ser assim. É o mesmo de sempre, que chega a cansar de tanto ter que se repetir: se queremos uma sociedade melhor, sem tanta violência, temos que atacar de imediato as causas estruturais. Ou seja, oferecer às pessoas condições de vida dignas (material e espiritual/emocionalmente falando). Temos que incentivar a solidariedade, o respeito, a fraternidade. Temos que ampliar a união e presença da família, e não no sentido TFPiano, mas no sentido de que é ela quem nos estrutura como seres humanos, nos aspectos bons e ruins de nossa personalidade.
Resumindo: temos que voltar lá atrás. Não vai adiantar combatermos o racismo com manifestações anti-racistas (claro que elas são necessárias, mas não eliminarão o problema); não basta querermos estancar as mortes no trânsito com campanhas de conscientização nas sextas-feiras (Diza Gonzaga, do projeto Vida Urgente, é defensora desta tese); não vai adiantar aumentarmos o policiamento, as grades, as armas para combater o crime. Temos que focar na educação, na ética, na sociedade, na família. Estas são as bases que podem construir um mundo melhor. Sem elas, não adianta nem mesmo Pelé se engajar nas campanhas anti-racismo. Ele será reverenciado como o Rei do Futebol, mas as pessoas continuarão chamando os meninos negros de "pretinhos".
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