"Vais ver o jogo na TV?"

      "Não, vou ver no meu rádio, em cores".
      A conversa de fato aconteceu, eu estava presente. Ocorre que a relação das pessoas com o rádio é diferenciada. É uma relação pontuada por peculiaridades. As peculiaridades são:
      Propriedade: as pessoas costumam ter um rádio que denominam "meu". Isto não ocorre com o aparelho de TV, com o jornal ou com o computador. Entretanto, pense se pegarem o "seu" rádio e você não encontrá-lo quando chegar em casa.
      Intimidade: o rádio, por sua portabilidade, é um companheiro de todas as horas; muitas pessoas dorme e acordam ouvindo rádio, tomam banho, fazem a barba, cozinham, trabalham. Ou seja, mais do que nenhum outro utensílio, ele está presente em todas as situações de nosso dia-a-dia.
      Emoção: no rádio, semelhantemente ao que ocorre quando lemos um livro, temos que, apoiados na descrição que nos dá o radialista, imaginarmos o fato ou produto descrito. Se for um fato, pode gerar grande emoção: um gol, um incêndio. Os locutores se tornaram verdadeiros ases da emoção.
      Urgência: o rádio, por ser o mais instantâneo dos meios de comunicação existentes, tem sempre prioridade como fonte de informação. Sabemos que, a qualquer momento, poderemos ouvir no rádio a notícia de um seqüestro, alta dos combustíveis, vitória de nosso time, etc. Por isto, o rádio desfruta de um status diferenciado frente aos demais veículos de comunicação.
      Subjetividade: a relação com o rádio, pelo exposto acima, tem um caráter altamente subjetivo. Os outros veículos de comunicação (TV, computador, jornal, revista) também podem estar presentes a qualquer instante. Mas, se é o rádio que você leva para a cama e para o banheiro, certamente sua relação com ele também é diferenciada. É um tipo de companheiro que não responde, mas muito fala, informa e entretém.
      Por tudo isto é que o cidadão autor da resposta lá do alto disse que ia "ver" o jogo no seu rádio, em cores. E com certeza viu.
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