"Não tinha coragem de falar com as pessoas", diz Tulio Milman

Jornalista do Grupo RBS relatou como foi a cobertura da tragédia de Santa Maria

Tulio Milman partiu para Santa Maria no início da tarde deste domingo, 27, para acompanhar os desdobramentos do incêndio na boate Kiss, que matou mais de 230 jovens, e retornou nesta segunda-feira, 28, à noite. O colunista do Informe Especial (página 3) de Zero Hora, comentarista do Gaúcha Hoje, da Rádio Gaúcha, e apresentador do programa Mãos e Mentes, da TVCom, disse ao Coletiva.net que cobrir uma tragédia dessa dimensão é sempre dolorido: "Não tinha coragem de falar com algumas pessoas. Me sentia constrangido em perguntar qualquer coisa para amigos ou familiares daqueles jovens. Ouvi muito mais do que falei", relatou.
Tulio explicou que se sentiu como testemunha de todos os movimentos, ficava muito tempo observando tudo e que, a partir disso, o material que produzia era com relatos do que via e ouvia em momentos diferentes. "No reconhecimento dos corpos, por exemplo, eu percebi que não tinha o direito de perguntar nada. Não sei se, do ponto de vista profissional, foi o mais correto, mas foi o que achei melhor", detalhou. Tulio contou ainda que ouviu a história de uma menina que saiu da boate e estava falando com uma amiga ao telefone, que ainda não havia conseguido sair, e que a ligação foi cortada de repente. Quando o jornalista se aproximou, a menina, muito emocionada, explicou que não queria mais falar do assunto, pois já havia contado aquela história muitas vezes. "Depois disso, não falei com mais ninguém, a não ser com as autoridades, bombeiros e etc."
Do ponto de vista da cobertura profissional, o jornalista do Grupo RBS destacou que o poder público compreendeu a necessidade da imprensa em obter determinadas informações e deu o espaço necessário para que os profissionais de comunicação fizessem seu trabalho. "Ninguém se negou a falar. Estavam todos disponíveis. Houve um entendimento do papel da imprensa naquele momento", relatou. Outro aspecto ressaltado pelo jornalista foi a comoção e a cooperação entre toda a imprensa que estava na cidade. "Não há como não se emocionar em uma situação como essa", garantiu. Profissionais de diferentes veículos, conforme Tulio, respeitavam uns aos outros e até se ajudavam, para que todos tivessem seu espaço. "Acabamos conhecendo muita gente, afinal somos todos colegas de profissão", concluiu.

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