Hugo Rodrigues sobre Cannes: "A gente vem para cá para fazer a cabeça ferver"

Em entrevista ao Coletiva.net, CEO da WMcCann fala sobre como inspirar e engajar em tempos de crise política e econômica

Para Hugo Rodrigues, mudanças na estrutura do festival são positivas - Divulgação/Coletiva.net

Por Cleidi Pereira, enviada especial de Coletiva.net

Um dos criativos mais premiados e influentes do País, Hugo Rodrigues avalia como positivas as mudanças na estrutura do Cannes Lions, que está mais enxuto neste ano tanto em número de premiações como em dias de festival. O CEO da WMcCann encara Cannes como uma busca por protótipos e tendências e uma oportunidade para fazer a cabeça ferver. Em entrevista ao Coletiva.net, ele também fala como a crise brasileira afeta o desempenho do país no festival e de que forma é possível inspirar e engajar as pessoas em momentos como este. "Temos que buscar essa força dentro de nós mesmos, senão vamos ficar esperando o outro nos incentivar e aí vamos continuar o eterno país do futuro", diz.

Confira a entrevista:

Qual a sua avaliação sobre a nova estrutura do festival?

Ficou tudo mais corrido, o que é bom. A gente vive na era do descartável, não tem jeito, essa nova geração exige isso. Ficou menor, mais enxuto, mais corrido. Acho a mudança positiva. As premiações também enxugaram. Está mais difícil de ganhar Leões aqui, o que eleva a barra. Acredito que com decorrer dos anos essa tendência vai se sedimentar. É um processo. Não dá para se imaginar que se muda tudo e todo mundo gosta.

A crise política e econômica brasileira afeta o desempenho do país em Cannes?

Cannes tem que ser visto como um experimento. A gente vem para cá para fazer a cabeça ferver, para ver o que está acontecendo de tendência, de inovação. É quase como se você buscasse protótipos, que possam vir a se tornar grande cases. Obviamente, já têm cases consagrados, mas a busca é sempre pelo novo. O mood do Brasil está muito pesado. Mas não é só Cannes. Afetou todas as indústrias. Qualquer pessoa que pensa e que sinta, está sofrendo. O país está muito machucado. A outra coisa é que aqui é tudo em euro. Tem uma frase do Obama que é "você pode ter a sua opinião, mas não pode ter os seus fatos". O valor do euro e do dólar afetou o festival como um todo. No ano passado, foram 40 mil inscrições e neste ano, 32 mil. Então, não foram só os brasileiros que sentiram.

Como inspirar, como engajar as pessoas em tempos de crise?

Eu nasci numa família extremamente amorosa, mas a gente não tinha uma condição maravilhosa. O que eu tive foi fé em Deus e disciplina - meus pais sempre foram justos, mas duros. O que eu sinto que falta é a gente primeiro buscar essa paixão dentro de nós mesmos. Todo mundo reclama da reunião de condomínio, mas ninguém faz nada. Ninguém vai na reunião, ninguém se candidata a síndico. Isso é um pensamento pequenininho, mas imagina para um país? Temos que buscar essa força dentro de nós mesmos, senão vamos ficar esperando o outro nos incentivar e aí vamos continuar o eterno país do futuro. O que eu diria é: fé em Deus e acordar todos os dias e dizer "eu sou capaz de mudar a minha vida" e, se eu mudar a minha vida, eu posso mudar a vida das pessoas que estão ao meu redor.

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